Onda fatal
Local da última etapa do Mundial de surfe, Pipeline, no Havaí, tem as ondas mais perigosas do mundo
Ondas perfeitas para a prática do surfe, temperatura sempre elevada e um visual que mistura a imagem litorânea com o verde das montanhas. Este é o cenário da praia de Pipeline, no Havaí, onde acontece, a partir desta segunda-feira (8), a última etapa do Mundial de surfe.
Mas a mesma praia de água límpida e sempre lotada de surfistas também esconde perigos no fundo do mar e nas próprias ondas, que fazem Pipeline ter a reputação de lugar mais mortal para o surfe.
Vindas do norte do oceano Pacífico, elas possuem uma força imprevisível e podem jogar o surfista contra recifes de corais que ficam localizados a três metros de profundidade. Ou contra uma bancada de pedras. Ou deixá-lo preso em uma caverna.
Segundo a "Enciclopédia do Surfe", livro do ex-surfista e historiador Matt Warshal, há em média uma morte por ano de surfistas na praia havaiana.
"É uma das ondas mais difíceis de se surfar. Para ganhar ali tem que surfar além do normal", diz o brasileiro Carlos Burle, 47, especialista em ondas gigantes.
Para surfar bem e com segurança (se é que isso é possível) em Pipeline, os salva-vidas no local recomendam sempre levar em conta a direção do vento e da ondulação. A menor hesitação pode causar um ferimento sério ou a até a morte.
"É muito difícil surfar em Pipeline. Tem que ter habilidade para dominar a onda. É muito desafiador", afirma Mineirinho, 27, oitavo na classificação do Mundial, mas que não vai disputar a última etapa por causa de uma lesão.
O experiente surfista porto-riquenho Joaquin Velilla foi um dos que perderam a vida em Pipeline, em 2007. Ele desapareceu no mar e a sua prancha foi encontrada no dia seguinte. O seu corpo nunca foi achado.
O japonês Moto Watanabe, que almejava ser um profissional, foi outra vítima da fúria das ondas de Pipeline, em 2004. De acordo com o surfista Jesse Hines, que conversou com Watanabe momentos antes do acidente, "a onda parecia boa no início, mas se transformou num monstro".
O japonês foi lançado pela onda e bateu com a cabeça no fundo do mar. Chegou a ser resgatado, mas entrou em coma e morreu 11 dias depois.
O ex-surfista brasileiro Teco Padaratz, 43, já passou por apuros em Pipeline. Em uma de suas aventuras no local, saiu do mar todo ralado ao se desequilibrar num tubo.
"Caí nas pedras e fui quicando, bati quatro vezes nas pedras com as costas, consegui me virar e ralei cotovelo e pernas", disse Teco, que usava capacete na ocasião.
É neste cenário que o paulista e líder do ranking Gabriel Medina, 20, o australiano Mick Fanning, 33, e o americano Kelly Slater, 42, vão disputar o título. A batalha, na verdade, vale mais do que o troféu. É também uma questão de sobrevivência.