O receio do ídolo
Campeão mundial de surfe, Gabriel Medina diz que depende de novas vitórias para não ser esquecido
Já é quase noite na terça (dia 20) em Maresias, uma das praias mais badaladas do litoral norte paulista, mas o calor ainda prevalece, girando em torno de 30°C.
O surfista Gabriel Medina, 21, recebe a reportagem de camiseta e bermuda, descalço, com sua prancha ao lado.
Acabaram as merecidas férias depois que ele se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe, mas é assim, muito à vontade e ao lado da família, que Medina já se prepara para a temporada de 2015, que começa no dia 28 de fevereiro, na Austrália.
Medina sabe que os próximos meses não serão fáceis. Terá pela frente o desafio de se manter em um grupo muito restrito, os maiores ídolos do esporte brasileiro.
"Pessoas que nunca viram surfe falam que se emocionaram com o título e vieram me cumprimentar", conta.
Para se manter entre os atletas mais admirados do país, Medina tem consciência de que seu empenho em 2015 deve ser ainda maior. Tudo pode mudar após uma sequência de derrotas.
"Os brasileiros se esquecem facilmente das coisas. Cobram demais. É difícil ser ídolo aqui. Você tem que ser constante, estar sempre em primeiro lugar", disse.
"Se for campeão uma vez e perder nos outros campeonatos, você já não significa mais nada", afirmou.
Com o seu sucesso no Mundial, o surfe ganhou um novo status no Brasil. Na etapa final do campeonato, no Havaí, por exemplo, o site oficial da ASP (Associação dos Surfistas Profissionais) saiu do ar várias vezes tamanha era a quantidade de acessos.
Para que a modalidade continue em destaque no país, Medina aponta a importância dos resultados da nova geração de surfistas.
"Quanto mais formos melhores nos torneios, o esporte vai crescer ainda mais. Tudo depende de nós", afirmou.
DINASTIA?
Antes mesmo de conquistar o seu primeiro título mundial, Medina já era considerado por seus principais adversários no circuito do surfe como um fenômeno.
O moço de 21 anos quer ir mais longe. Um desejo é superar o americano Kelly Slater, 42, dono de 11 títulos mundiais e mais importante nome da história do surfe.
"Eu o respeito muito, mas penso alto. Meu sonho é passá-lo e quebrar esse recorde dele. Mas ainda tenho que ultrapassar muita gente, como o Mick Fanning, que tem três títulos", afirmou, em referência ao australiano.
Para tanto, não há tempo a perder. Às 19h30, logo após a entrevista, Medina botou a prancha debaixo do braço e foi para o mar fazer o que mais entende, surfar.