Primeiros duelos inspiraram o termo 'futebol de várzea' no país
FUTEBOL, 120 Times populares faziam seus jogos às margens dos rios
"Futebol de várzea" é uma expressão utilizada como sinônimo de jogo ruim e baixa qualidade dos jogadores.
A origem, porém, não tem nada a ver com o uso convencional e sim com os primórdios do esporte, que completa 120 anos de prática no Brasil nesta terça-feira (14).
A primeira partida foi em um domingo de outono, em 1895, na várzea (terreno plano, baixo) do Carmo, centro da capital paulista.
O duelo foi entre funcionários da empresa ferroviária São Paulo Railway e da Gás Company, de iluminação, teve a presença de Charles Miller (1847-1953), considerado o pioneiro do futebol no país.
Após aquele primeiro passo, outros amistosos foram feitos em São Paulo, sempre nas regiões de várzea, geralmente próximas aos rios ou nas chácaras, como a do americano Dulley, onde hoje é o Colégio de Santa Inês (Luz).
Com o futebol em alta e o surgimento de clubes para a sua prática, como o São Paulo Athletic Club (Spac), Mackenzie, Germânia (Pinheiros), Internacional e Paulistano, apareceram também os primeiros campos.
Foram os casos do estádio da Consolação, área que ainda pertence ao clube social do Spac, do Velódromo --hoje é a praça Roosevelt-- e do Parque Antarctica, atualmente o estádio do Palmeiras.
Como as condições para a prática do futebol tinham mudado e os jogadores dessas equipes representavam membros da elite, o termo futebol de várzea acabou sendo destinado aos clubes populares.
Assim, as equipes formadas por negros, imigrantes e operários --casos de Ypiranga (1906) e Corinthians (1910)-- receberam a denominação de "times de várzea".
Hoje, a expressão ainda é utilizada para fazer referência a equipes que não são profissionais. Mas, quando se associa o termo a um clube profissional, é em referência à baixa qualidade do time.
CHALEIRA
Outra expressão que surgiu nos primórdios do esporte no Brasil e se perpetuou foi a "chaleira" (chute dado com o lado de fora do pé, com a perna levantada e dobrada para trás), uma referência a Charles Miller, criador dela.
Nenhum dos campos originais de São Paulo sobreviveu à urbanização da cidade, mas ainda há referências que podem ser encontradas.
Na sede do Spac, na Consolação, há uma placa da Câmara citando "o importante papel do clube de representar um dos marcos históricos do futebol brasileiro".
Assim como essa placa, há outras quatro com propósito semelhante. Uma está na Cantina Giggio, no largo do Gasômetro, em referência ao local do primeiro jogo.
As outras estão no Colégio de Santa Inês, no Paulistano (em referência ao campo do Velódromo) e no Museu do Futebol, no Pacaembu.
"Essas placas fazem parte de um projeto de lei que instituiu o Dia em Memória ao Futebol Brasileiro, que é em 24 de novembro, data do aniversário de Charles Miller", explica o historiador britânico John Mills, autor da biografia "Charles Miller, o Pai do Futebol Brasileiro".