Com aplausos, Uruguai dá adeus a Ghiggia
MEMÓRIA Morto aos 88, último remanescente do Maracanazo foi homenageado por autoridades e esportistas
Sob gritos de "campeão" e aplausos, os uruguaios se despediram do corpo de Alcides Ghiggia, enterrado no final da tarde desta sexta-feira (18), em Montevidéu.
Desde o meio-dia, o Palácio Legislativo foi aberto para que a população pudesse render homenagens ao ex-jogador, que morreu aos 88 anos na quinta e era o último representante da seleção que venceu o Brasil no Maracanã na final da Copa de 1950.
O ex-presidente uruguaio, José Mujica, chegou à cerimônia acompanhado de sua mulher, a senadora Lucía Topolansky. À Folha, ele disse que a lição deixada por Ghiggia é que "a vida é bela e é necessário vivê-la intensamente".
"Eu tinha 15 anos quando o vi jogar. Só tive uma alegria parecida [à do Maracanazo], e foi quando saí da prisão. O Maracanazo foi também uma espécie de canto do cisne. Depois, o mundo começou a mudar, e o Uruguai também. O Maracanazo foi uma época", disse Mujica, que ficou preso durante a ditadura no país por motivos políticos.
Também na cerimônia no Congresso, o presidente interino do Uruguai (já que Tabaré Vázquez se encontrava em Brasília), Raúl Sendic, disse que Ghiggia "marcou a fogo a história esportiva e a história de vida" dos uruguaios.
Arcadio Ghiggia, filho do ex-jogador, afirmou que o pai "gostava de homenagens em vida". Que havia dado nomes a escolas, estado em vários países e que recebia o carinho dos uruguaios todos os dias.
Sobre o pai ter tido um fim de vida modesto ""a mulher tem uma barraca de roupas em Las Piedras, próximo de Montevidéu–, o filho disse que Ghiggia sentia-se feliz.
"O Brasil era a segunda pátria do meu pai", afirmou à Folha. "Disseram-me que meu pai estava disputando sua última partida. Disse que não: que era um amistoso com o Brasil e que, se o Uruguai vencesse, o Brasil ganharia um churrasco. E que, se o Brasil vencesse, o Uruguai ganharia uma feijoada."
Além de familiares, autoridades políticas, referências do futebol local e admiradores do ex-jogador passaram pelo Congresso, que teve uma movimentação tranquila.
O capitão da seleção uruguaia, Diego Godín, disse que a morte de Ghiggia gera "sentimentos contraditórios".
"Parece incrível que tenha nos deixado no mesmo dia e quase nos mesmos minutos em que fez seu gol há 65 anos. Isso só aumenta sua lenda."
Godín opinou que vão continuar nascendo crianças que terão a percepção de que o Uruguai ganhou o Mundial de 50 "contra o impossível".