Desempenho do Brasil em Kazan liga sinal de alerta
NATAÇÃO Quantidade de medalhas do país fica aquém do Mundial anterior, o que gera preocupação para Rio-2016
Nos números, desempenho aquém do esperado. Nas circunstâncias, um treinamento para o objetivo maior.
De um modo ou de outro, a participação da natação brasileira no Mundial de Kazan, na Rússia, encerrado neste domingo (9), acendeu o alerta para os Jogos do Rio.
A equipe caiu em quantidade de medalhas e finais em relação à edição anterior, há dois anos, em Barcelona. Na Espanha haviam sido cinco pódios, com dois ouros; em Kazan, quatro, sem triunfos.
Muito disso passa pelo "fator Cielo", que desapareceu na Rússia. Com a alegação de lesão em tendão do ombro esquerdo, Cesar Cielo deixou o Mundial na quarta (5) após nadar apenas os 50 m borboleta, distância na qual terminou em sexto lugar. Ele nem chegou a defender o título mundial dos 50 m livre.
O velocista havia conquistado seis medalhas de ouro nos últimos três Mundiais.
Sem ele, as performances saltaram menos aos olhos. A meta de ao menos 12 finalistas para igualar a performance de 2013 também não foi alcançada. Na Arena de Kazan, foram dez finais feitas.
O recorde nacional ocorreu em Roma-2009, com 18.
Das quatro medalhas conquistadas, apenas duas podem ser repetidas nos Jogos do Rio, por fazerem parte do programa olímpico: a de Thiago Pereira, nos 200 m medley, e a de Bruno Fratus, nos 50 m livre.
Tanto a prata de Etiene Medeiros –primeira medalha feminina do país na história dos Mundiais– quanto a de Nicholas Santos são advindas de provas não-olímpicas. Respectivamente, 50 m costas e 50 m borboleta.
OSCILAÇÕES
Mais preocupante do que as estatísticas de Kazan são as oscilações. Sobretudo nas comparações com o Pan de Toronto. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) decidiu enviar o time principal para os dois eventos –Cielo foi a exceção.
Com 15 dias de intervalo entre as disputas, o que se viu foram muitos atletas com auge no Canadá, em tese um torneio menos relevante, e resultados inferiores na Rússia.
Foram os casos, por exemplo, de Felipe França e Leonardo de Deus. Caso repetissem os tempos com que venceram no Pan os 100 m peito e os 200 m borboleta, respectivamente, teriam avançado às decisões em Kazan.
O peitista Felipe Lima, por exemplo, reclamou da opção da confederação. Bronze nos 100 m peito em Barcelona-2013, não nadou bem no Pan e tampouco em Kazan.
O revezamento 4 x 100 m livre feminino também piorou em três segundos a marca de Toronto. Menos mal que se classificou para 2016, já que os 12 melhores de cada prova se garantiam.
O Brasil tem quatro revezamentos qualificados para o Rio. Exceções são o 4 x 100 m medley feminino e 4 x 200 m livre masculino, que dependem de ranking para entrar.
"Não teria havido oportunidade melhor como laboratório para o Rio. Nadador só aprende na dificuldade. E será pior no Rio", diz o diretor da CBDA, Ricardo de Moura.
Por outro lado, certas atuações deram ânimo. O revezamento 4 x 100 m livre masculino raspou no pódio e tem potencial para mais.
Thiago Pereira medalhou no segundo Mundial consecutivo, e Bruno Fratus se inseriu de vez entre os favoritos a conquistas nos 50 m livre.
KATIE, UM FENÔMENO
A norte-americana Katie Ledecky, 18, deixa Kazan como grande nome da natação mundial. Ela foi a primeira atleta da história a vencer dos 200 m livre aos 1.500 m livre em um único Mundial. Além disso, bateu três recordes.
Foi, enfim, eleita a melhor nadadora do evento.
Foi graças a Katie que os EUA ficaram em primeiro lugar no quadro geral de medalhas da natação, com 23 láureas no total, mas apenas um ouro a mais do que a Austrália (8 a 7).