Crítica - Drama
Sensação de deslocamento marca longa de Amos Gitai
O espaço sempre ocupou um lugar privilegiado no cinema de Amos Gitai: durante boa parte de sua obra, o israelense buscou fazer de seus filmes um meio de diálogo entre dois povos que disputam um mesmo espaço: israelenses e palestinos.
Talvez cansado de ver esses dois povos se hostilizarem tragicamente, o cineasta tem se dedicado a tratar de uma questão nada secundária: ser judeu.
No caso de "Tsili", já se nota o que é desde o início; uma moça dança na superfície escura da tela: trata-se de achar um espaço onde dispor seu corpo. E logo em seguida vemos a moça, Tsili, em roupas precárias, numa paisagem hostil, buscando abrigo, comida, enquanto ouvimos sons de guerra que podem se converter em sons, talvez, de trovões, e luzes de raios.
Esse será o centro do filme: a busca de um abrigo.
Às vezes não chegamos a nos situar confortavelmente na ação, dado seu caráter abstrato, não porque Gitai queira fugir do óbvio (a perseguição ocorrida durante a 2ª Guerra Mundial), mas, por abarcar, de maneira atemporal, a desesperante sensação de nunca ocupar um espaço que seja seu.
Aos poucos, o momento é o que precede a guerra. Sabemos então, apesar do tato de Gitai, que é da tragédia judaica que trata "Tsili". Mas talvez esse espaço angustiante evoque também a tragédia do povo vizinho, também sem lugar: os palestinos.