Crítica - Drama
Filme diz que cada um tem de escolher um lado na questão das cotas raciais
A questão das cotas raciais --reserva de vagas na universidade para determinados grupo étnicos-- ganhou o telão. E não chega em documentário cabeça nem em curta de linguajar sociologuês, mas sim numa narrativa premiada que retrata o período em que uma família de classe alta do Rio de Janeiro tem de enfrentar a quebradeira.
É ponto de discussão educada e politicamente correta no jantar da família endinheirada retratada em "Casa Grande", de Fellipe Barbosa, é assunto no exclusivo colégio para rapazes que Jean (Thales Cavalcanti), filho do executivo falido, frequenta.
Finalmente, é o pomo da discórdia em churrascada da família com amigo de quem o pai é devedor e vira gatilho para o desenrolar da sequência que levará ao final do filme. Paira sobre tudo e todos, como a dizer que cada um tem de escolher o seu lado.
Hugo (Marcello Novaes), o patriarca, escolhe o do autoengano e da dissimulação. Falido depois de especulações no mercado financeiro, com dívidas impagáveis, tenta sem sucesso esconder da mulher sua situação.
Não consegue, e os dois se unem para tentar proteger da notícia os filhos criados em redoma de vidro, na casa de 1.400 m² de área construída, com piscina, Jacuzzi e quatro carros na garagem.
Não vai dar. Há que cortar custos. O motorista é demitido, a empregada pede demissão, a governanta sai depois de um entrevero com a patroa, a Jacuzzi é desligada, discute-se se a casa deve ser posta à venda.
Muda a vida dos filhos, a caçula surrupia dinheiro dos pais, o filho passa a andar de ônibus. E descobre a vida fora da gaiola de ouro.
Barbosa, o cineasta, conhece bem tudo isso. Dedica o filme à família, que enfrentou situação semelhante à retratada em "Casa Grande".
"Meu pai escondeu a falência enquanto pode, e eu fui o último a saber. Quando descobri, era tarde demais, eu já tinha entrado fundo no cartão de crédito, tive de pedir emprestado como todo o mundo", contou ele ao site Film Comment.
E resume parte do sentimento que vemos na tela: "Quando eu era da idade de Jean, tinha um pouco de vergonha de ser rico".