Crítica Cinema
Violência abundante transforma filme numa experiência gráfica
Longa lembra aqueles games em que o jogador atira sem parar em qualquer coisa que se mexa na tela
Depois de "Matrix", em 1999, Keanu Reeves parecia destinado a ser o ator mais quente do começo deste século. O Harrison Ford de sua geração. Mas não foi exatamente o que aconteceu.
Um tanto excêntrico, a ponto de interromper a carreira para se dedicar às artes marciais e à meditação, Reeves se perdeu em filmes fracos. O que, de forma surpreendente, não é o caso deste "De Volta ao Jogo" (2014).
Ele interpreta John Wick, um matador de aluguel aposentado que empresta o nome ao título original do filme.
Na primeira sequência, sua linda e jovem mulher morre de câncer. Para tentar escapar da depressão, ele se apega a um filhote de beagle, último presente de sua amada.
Um dia, ao abastecer o Mustang 1969 num posto, cruza com russos casca-grossa e tem com eles uma conversa nada amigável. O espectador saberá depois que o mais jovem e provocador é filho do grande chefe da máfia russa em Nova York.
Os sujeitos seguem Wick até sua casa, dão uma surra nele, roubam seu carro e, o pior de tudo, matam o cachorrinho. Em poucos minutos, a trama está desenhada. Wick vai voltar à ativa por vingança.
O que diferencia o filme de outros do tipo é a intensidade da fúria de Wick. Perto dele, Jack Bauer, da série "24 Horas", é coroinha. O chefão mafioso coloca a cabeça dele a prêmio e Wick terá de matar um bocado de bandidos para sobreviver e se vingar.
Ele passa como um furacão pelos locais dominados pelos russos. Quando vai a uma imensa discoteca infestada de capangas do mafioso, mata uns 60 ou 70 inimigos em menos de dez minutos.
VIDEOGAME
Tudo é violentíssimo. Wick quebra pescoços e braços, espeta o que tiver na mão na jugular do oponente e costuma finalizar cada vítima com um ou dois tiros no rosto.
Em alguns momentos, o filme é praticamente a representação com atores desses games em primeira pessoa, aqueles em que o jogador dá tiros sem parar em qualquer coisa que se mexa na tela.
Por isso, "De Volta ao Jogo" é irresistível para garotos de todas as idades com a testosterona em dia. A violência é tão exagerada que se torna uma experiência gráfica.
Quem tentar contabilizar a matança vai se perder. Wick deve eliminar, sem exagero, pelo menos uns 150 bandidos. E tudo isso com a cara de pedra e o vozeirão de super-herói de Reeves.
"De Volta ao Jogo" pode ser uma bobagem para quem busca no cinema alguma reflexão. Mas é um pandemônio de violência com muito estilo.
DE VOLTA AO JOGO
(JOHN WICK)
DIREÇÃO Chad Stahelski
ELENCO Keanu Reeves, Willem Dafoe, Michael Nyqvist
PRODUÇÃO EUA, 2014, 16 anos
AVALIAÇÃO bom