Livro compila dez anos de cinema itinerante
Obra esmiúça o Tela Brasil, projeto de Laís Bodanzky e Luis Bolognesi que roda o país
Desde 2004, os cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi levam as luzes do cinema para periferias, comunidades amazônicas, hospitais psiquiátricos e até penitenciárias.
O saldo de uma década de exibição itinerante de filmes pelos rincões do país está no livro "Cine Tela Brasil e Oficinas Tela Brasil", que os dois lançam nesta segunda (1º), às 19h, no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.
Os idealizadores calculam que cerca de 1,3 milhão de brasileiros chegaram a assistir a algum dos 137 filmes exibidos pelo projeto --basicamente, uma estrutura que conta com cadeiras e projetor e que vaga pelas estradas brasileiras a bordo de caminhões.
A ideia germinou em meados dos anos 1990, conta Bolognesi, "uma época em que todos os curtas dirigidos pela minha geração de cineastas só conseguiam ser exibidos para cinéfilos em festivais".
O casal, então, quis buscar outros públicos. Juntaram na caçamba do carro um projetor emprestado, uma tela doada, um gerador e uma penca de rolos de curtas-metragens. Seis meses de pé na estrada.
Em 2004, com o apoio de recursos da Lei Rouanet, o projeto passou a rodar o país exibindo longas nacionais em comunidades de baixa renda.
"Daí começou outra angústia", afirma Bolognesi. "As pessoas iam ao cinema, muitas vezes pela primeira vez, piravam com aquilo, mas o que a gente deixava com elas?"
A partir de 2007, passaram a ministrar oficinas gratuitas às comunidades sobre como produzir curtas-metragens. Hoje, somam 407 os filmes realizados após os workshops.
"Só oito dos curtas tratam de armas", diz o cineasta. "Quando nós, diretores intelectuais, filmamos a periferia, só olhamos a violência. Quando damos a câmera a eles, falam de outras coisas, especialmente sobre si mesmos e sobre suas relações afetivas."
Estão na obra o balanço sobre essas produções, entrevistas com alunos, assim como textos assinados pelo rapper Emicida e por Ricardo Calil, crítico de cinema da Folha.
Em 2011, o projeto ultrapassou os portões da penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, exibindo três produções nacionais. Há depoimentos de três detentos. "Isso faz uma higiene na nossa mente", comenta um deles.