Painel das letras
RAQUEL COZER raquel.cozer@grupofolha.com.br
Chico na Alemanha
"Não me ocorreria escrever esse livro com minha mãe viva", diz Chico Buarque à "Piauí" deste mês, na única entrevista à imprensa sobre o romance "O Irmão Alemão", que frequentou o topo das listas de mais vendidos em 2014. A revista acompanhou o escritor numa viagem à Alemanha após a descoberta do irmão Sergio Günther, filho de um namoro de juventude de seu pai Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982).
Embora o namoro tenha sido muito anterior ao casamento com Maria Amélia (1910-2010), Chico ficou "mais à vontade para escrever" depois que a mãe morreu --ela já tinha ficado "um pouquinho incomodada" com "Leite Derramado" (2009), que "tem muito da família dela". Ele conta que, apesar das descobertas, não quis incluir mais história real à trama. "Só sei fazer ficção."
Chico na Alemanha 2
A revista mostra um Chico bem humorado, brincalhão, tentando agradar os parentes recém-descobertos em Berlim --o que não foi tão fácil no caso das ex-mulheres do irmão alemão, que não era bem flor que se cheirasse.
A certa altura, num jantar, Chico cantarola "Duas laranjas nos cabelos/ e bananas nos quadris", trecho que substituiu os versos "Estava à toa na vida/ o meu amor me chamou" numa versão de sua canção "A Banda", popular na Alemanha nos anos 1960. O escritor então pergunta a Monika, ex do irmão, se ele teria conhecido a canção. Ao saber que sim, conclui: "Então de alguma forma ele me conheceu".
A viagem foi acompanhada também pela equipe de Miguel Faria Jr., que prepara documentário a ser lançado neste ano.
ARTES VISUAIS
A biografia "Quando Marina Abramovic Morrer", de James Westcott, deve ser lançado pelas Edições Sesc em março, quando será aberta a mostra da performer sérvia no Sesc Pompeia
Olhar estrangeiro
O mais importante romance de João Ubaldo Ribeiro, "Viva o Povo Brasileiro", foi objeto de estudo de Rita Olivieri-Godet, professora de literatura brasileira na Université Rennes 2-França e que já havia publicado "Construções Identitárias na Obra de João Ubaldo Ribeiro".
O novo estudo, "Viva o Povo Brasileiro: A Ficção de uma Nação Plural", sai em fevereiro pela É Realizações, com organização de João Cezar de Castro Rocha.
A autora discute as relações de poder que o romance realiza, expondo os mecanismos de exclusão no processo de formação da nação. Com 40 mil cópias vendidas nos últimos sete anos, "Viva o Povo Brasileiro" teve há pouco, pela Alfaguara, edição comemorativa de 30 anos.
Vai que... Não tem um ano em que o queniano Ngugi wa Thiong'o, não figure entre os primeiros colocados das bolsas de apostas do Nobel. Enquanto o prêmio não vem, a Alfaguara faz o investimento: programou para setembro o primeiro livro do autor no Brasil, o romance "Um Grão de Trigo", cuja trama se passa nos anos 50, quando o Quênia vivia um estado de emergência durante rebelião contra o domínio britânico.
Jovens O poeta e escritor Marco Lucchesi, autor de "O Bibliotecário do Imperador" (Record), prepara duas coleções para jovens pela Rocco.
Jovens 2 "Memórias do Futuro" trará clássicos em prosa inéditos ou pouco conhecidos. Começa, neste mês, por "As Últimas Cartas de Jacopo Ortis", em que o italiano Ugo Foscolo (1778-1827) fala da desilusão com a ideia de uma Itália unificada sob Napoleão Bonaparte.
Jovens 3 Já a coleção "Espelho do Mundo" trará um pouco da poesia contemporânea de várias partes do globo, em edições bilíngue.
Jovens 4 Para esta segunda série, estão programados "Caligrafia Silenciosa", do poeta, crítico e tradutor romeno George Popescu, que será lançado em abril, e os haicais do poeta e diretor iraniano Abbas Kiarostami, com tradução direta do persa.
Experimental "How to Be Both", romance da escocesa Ali Smith que foi finalista do Man Booker Prize e vencedor do Goldsmith's Prize para ficção experimental, teve os direitos adquiridos pela Companhia das Letras.
Experimental 2 O romance une as histórias de um pintor renascentista e uma garota dos dias de hoje. Na edição em inglês, o livro foi publicado em duas versões, cada uma delas aberta por uma das duas histórias.
Outra vez Depois do premiado "Nossos Ossos", o pernambucano Marcelino Freire volta a escrever um romance, para 2016, já contratado pela Record. A editora carioca também contratou e pretende publicar em 2015 o volume de contos "Amar É Crime", lançado pela Edith em 2011.