Em 'Livre', atriz supera imagem de certinha
Reese Witherspoon protagoniza filme carregado de cenas de sexo bruto e uso de drogas
Reese Witherspoon mudou o rumo de sua carreira alguns anos atrás. Na época, era conhecida por ter ganhado um Oscar como June Carter em "Johnny & June" (2005) e por dominar o cinema para loirinhas espevitadas mas nada burras --e mesmo assim começou a enfrentar falta de papéis.
"Fora um estúdio, ninguém estava desenvolvendo roteiro com protagonista mulher", diz Witherspoon, 38. Em 2012, ela e a australiana Bruna Papandrea criaram a produtora Pacific Standard, companhia que lançou neste ano dois filmes baseados em best-sellers, "Garota Exemplar" e "Livre".
Esse último, baseado nas memórias de Cheryl Strayed, levou críticos a prever uma possível indicação ao Oscar para a atriz. "Estou extasiada", ela disse, "por os dois filmes estarem se saindo tão bem".
Em "Livre", devastada pela morte da mãe, a personagem de Witherspoon empreende uma viagem de 1,8 mil quilômetros a pé pela Pacific Crest Trail, com flashbacks sobre suas infidelidades conjugais e seu vício em heroína.
Além de filmar cenas de sexo bruto e uso de drogas, ela conta, durante a produção teve que entrar na água gelada carregando uma mochila de 32 quilos e enfrentar mosquitos e cobras. Ainda assim, o diretor Jean-Marc Vallée se impressionou com a facilidade que ela demonstrava ao atuar.
'PESSOA ADORÁVEL'
Witherspoon descreve o papel como o mais difícil que já interpretou, e revelou que parte de sua preparação envolveu hipnose. "Fiz uma sessão, e foi muito útil", ela disse. A atriz também diz que o papel foi um alívio, depois de décadas de filmes nos quais, querendo ou não, ela foi escalada como a "namoradinha da América".
"Eu não sentia o quanto isso me restringia até quando percebi que eu não era aquela pessoa. Sou complexa. Mas de alguma forma, sempre vivi essa experiência redutiva, de ser colocada numa caixinha".
E qual seria essa caixinha?
"A de uma pessoa adorável", responde Witherspoon com um traço de desdém. "Para mim, meu personagem em Livre' é mais adorável do que muitos dos papéis em comédias. Ela está dizendo a verdade. Não tem vergonha das experiências que passou."
Strayed, que faz uma ponta no começo de "Livre", diz que pensou em diversas atrizes antes de enviar o manuscrito a Witherspoon. "Reese sempre me pareceu autêntica. E ela realmente expressou suas paixões e sua humanidade."
Depois de ler as provas de "Livre" em 24 horas, Witherspoon ligou para seu agente, chorando, e disse que aquele era "o livro mais lindo".
A atriz acrescenta: "Eu disse à minha parceira de produção que se conseguíssemos filmar bem, aquele seria o primeiro filme, creio, protagonizado por uma mulher que no final não tem dinheiro, homem, pais, emprego ou oportunidades, mas ainda assim vive um final feliz. Estamos muito atrasados para a festa".
"Livre" já está fazendo sucesso no circuito de festivais, ainda que Papandrea se preocupe um pouco com a possibilidade de que seja rotulado como "filme de mulher". Mas a esperança é que a história de uma mulher que supera problemas financeiros, com drogas e a dor de uma perda, sem ajuda, ecoe junto a homens e mulheres igualmente.
"Somos nós que nos salvamos", diz Witherspoon. "Toda mulher e todo homem sabe disso. É uma história universal. Mas é revolucionária porque permite que uma mulher a conte".