Brasileiros têm boa recepção durante o Festival de Berlim
Comédia 'Que Horas Ela Volta?', de Anna Muylaert, recebe aplausos calorosos
Walter Salles exibiu 'Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang', sobre o cineasta chinês que conheceu no evento
Quando subiu ao palco do cinema Zoo Palast para apresentar sua comédia "Que Horas Ela Volta?", exibida na noite de domingo (8) no Festival de Berlim, a cineasta Anna Muylaert dedicou a projeção não apenas à equipe do filme, mas "a todo o povo que faz o cinema pernambucano".
A homenagem da cineasta paulista faz sentido e, de fato, a existência do filme parece estar ligada a um dos poucos fios que unem a diversidade da produção pernambucana atual: uma disposição de tocar em tabus de forma direta e desafiadora, rompendo com certa tendência alegórica que sempre fora predominante.
Em "Que Horas Ela Volta?", Muylaert fala de um tema politicamente complicado: a relação entre patrões e empregados domésticos nos grandes centros urbanos brasileiros --aquela que, possivelmente, é a herança mais cruel e persistente da escravidão. O roteiro procura dar conta, ainda, da transformação que esse tipo de relação vem sofrendo no país.
A situação básica é bastante engenhosa. A jovem Jéssica (Camila Márdila) vai a São Paulo realizar uma prova para entrar numa universidade. Ela fica hospedada com a mãe, Val (Regina Casé), que trabalha como doméstica para uma família rica no Morumbi e mora em um quarto nos fundos da casa dos patrões.
O longa consegue um feito raro na produção brasileira atual, que é fazer uma comédia provocativa que foge das produções feitas para a TV e ao mesmo tempo busca se comunicar com o público.
APLAUSOS
Pelo menos internacionalmente, o filme tem passado com louvor em seus primeiros testes. Depois da ótima recepção no Festival de Sundance, no início do ano, a produção foi recebida calorosamente em Berlim por uma plateia que riu, se emocionou e aplaudiu longamente.
Não por acaso, um longa pernambucano --"Sangue Azul", de Lírio Ferreira-- abriu na quinta-feira (5), em quatro salas cheias, a sessão Panorama, que nos últimos dias exibiu outros dois brasileiros: "Ausência", de Chico Teixeira, no domingo, e "Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang", de Walter Salles, nesta segunda.
"Ausência" marca a volta de Chico Teixeira a Berlim depois de sete anos, quando apresentou "A Casa de Alice".
Seu novo filme é um delicado romance de formação que acompanha o triste processo de amadurecimento de um adolescente.
Em sua primeira exibição, o filme quase lotou uma das maiores salas do multiplex CinemaxX, e boa parte do público ficou para uma sessão de perguntas e respostas, em que o trabalho dos atores foi particularmente elogiado.
Walter Salles voltou ao palco do Kino International para apresentar a primeira sessão em Berlim de seu documentário sobre o cineasta chinês Jia Zhangke, que foi aplaudido ao final da sessão.
"É muito emocionante estar aqui, já que a primeira vez foi em 1998, com 'Central do Brasil', quando Jia Zhangke também esteve no festival com seu primeiro filme", lembrou-se.
O chinês não compareceu, mas mandou um bilhete com um agradecimento ao festival: "Mudou minha vida".