Crítica
Obra aniquila mitos otimistas sobre a 'democracia digital'
É impossível terminar a leitura de "Culture Crash", de Scott Timberg, sem estar arrasado. O livro prova que a tão propagada "era da democracia digital" defendida pelos arautos da informação livre não passou de uma falácia. No lugar do mundo bem informado, heterogêneo e culto que, diziam, a internet proporcionaria, temos hoje um mundo cada vez mais ignorante e homogêneo.
Timberg empilha dados, e cada um é uma facada no coração: o interesse por literatura e artes nunca foi tão baixo; a crença em Darwin é menor hoje do que há 40 anos; das 100 revistas mais vendidas nos EUA, só duas cobrem arte; nos últimos 15 anos, cerca de 80% dos críticos e repórteres de arte de jornais norte-americanos perderam seus empregos; vagas para designers gráficos, fotógrafos e arquitetos caíram entre 20% e 30% nos últimos anos.
Lembra aquele papo de que a internet possibilitaria a músicos contato direto com fãs, sem a intermediação de gravadoras e com mais lucros? Mentira. Em média, músicos ganham hoje menos do que na época em que eram "explorados" pelas gravadoras.
A concentração de lucro na venda de música nunca foi tão grande, e as únicas beneficiadas foram as empresas de tecnologia. Dos 75 mil discos lançados no mundo inteiro em 2010, apenas mil venderam mais de 10 mil cópias. Uma pequena casta de artistas nunca vendeu tanto, enquanto a esmagadora maioria luta pelas migalhas.
O monopólio da informação --aquele que seria destruído pela Internet, lembra?-- nunca esteve tão forte. Em 2001, dez sites respondiam por 31% do tráfego na internet. Hoje, representam mais de 75%. Ainda assim, a imensa maioria dos textos jornalísticos na web vem da "velha mídia". Nos EUA há três assessores de imprensa para cada jornalista.
Sites de venda usam algoritmos para recomendar compras a consumidores e guiá-los aos produtos mais populares, incentivando o monopólio e destruindo a competição. E o futuro parece pior: na China, dez novas salas de cinema são inauguradas por dia, quase todas em 3D e Imax, para exibir "blockbusters" hollywoodianos.
Um professor de arquitetura norte-americano resume a melancolia: "Como educador, me sinto como um aiatolá mandando crianças correrem num campo minado".