Crítica cinema/drama
Filme se afasta dos clichês do cinema gay e permite experiência emocionante
As primeiras cenas de "O Amor É Estranho" dão a entender que estamos diante de um filme gay. Dois homens acordam na mesma cama, arrumam-se e caminham até o local onde celebrarão seu casamento, após anos juntos.
Em seguida, Ben e George comemoram com amigos, mas a escola católica onde George dá aulas considera inaceitável tanta exposição de sua união e o demite.
A situação, contudo, não resume o quinto e mais perfeito longa de Ira Sachs como um manifesto contra a intolerância. Sem condições de pagar o apartamento onde vive, o casal é forçado a dormir separado nas casas de um sobrinho e de amigos.
Assim, o filme acumula microconflitos que revelam como a evidência do amor provoca manifestações diversas de estranhamento. A convivência tão próxima em espaços alheios e a intimidade forçada com quem só era familiar logo introduz asperezas, confunde-se com invasão e tende a pôr em risco afetos que só existiam à distância.
Sachs, como já mostrou em "Vida de Casado" (2007) e em "Deixe a Luz Acesa" (2012), interessa-se mais pela dificuldade da convivência do que em vender uma versão romanceada dos relacionamentos.
Mas não é só isso que distingue "O Amor É Estranho" dos clichês predominantes no cinema gay. A escolha de protagonistas longe do padrão jovem, belo e malhado permite ao filme abarcar temas como o envelhecimento, a ressignificação dos desejos e a aceitação do outro, presentes em toda vida em comum.
Juntos e separados, John Lithgow (Ben) e Alfred Molina (George) se completam para transformar o filme numa experiência emocionante.