'Otello' abre temporada de óperas do Municipal de SP
Montagem minimalista de clássico de Verdi tem cenário com projeções
Diretor coloca realismo de lado para evidenciar teor psicológico da trama de traição e morte escrita por William Shakespeare
O Theatro Municipal de São Paulo abre nesta quinta (12) sua temporada de óperas com um "Otello" minimalista. Na montagem do italiano Giancarlo del Monaco, 71, a história do general mouro que originalmente se passa no Chipre do século 15 dá lugar a uma ação sem tempo e espaço definidos, desenvolvida em um cenário com apenas projeções de imagens.
Serão nove récitas da ópera do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) na qual Del Monaco dispensa o realismo para colocar em evidência o teor psicológico da história de traição e morte adaptada pelo libretista Arrigo Boito (1842-1918) a partir da obra de William Shakespeare (1564-1616).
Na trama, o alferes Iago faz Otello crer que sua mulher Desdemona o trai com o lugar-tenente Cassio, que ele havia destituído do posto. Cego de ciúme, o mouro a assassina com as próprias mãos.
No palco do Theatro Municipal, o cenário será composto por um telão em formato de "U", que se estende pelo fundo e pelas laterais do palco, e um tule fino recobrindo a boca de cena. Na tela serão projetadas imagens do espaço sideral.
"Minha concepção é que os seres humanos estão descobrindo lentamente o universo e eles carregam consigo todas as falhas e a sordidez da humanidade. Carregam a inveja, o racismo, o ódio como se fossem um vírus e espalham isso no universo", diz Del Monaco à Folha.
Os figurinos, futuristas e com cores neutras, não por acaso lembram a saga "Matrix", levada aos cinemas pelos irmãos Wachowski entre 1999 e 2003. Segundo Del Monaco, as produções estão entre suas referências.
HOMENAGEM
Este "Otello" será uma homenagem ao pai do diretor, Mario Del Monaco (1915-1982), um dos maiores tenores do século 20, que atuou no Metropolitan Opera de Nova York de 1951 a 1959.
Embora tenha cantado em mais de 50 óperas, entre elas "Aida", "A Força do Destino", "Pagliacci" e "Il Trovatore", foi com "Otello" que Mario se tornou célebre. Foram 427 apresentações na pele do general mouro.
Uma delas ocorreu em agosto de 1950, no Theatro Municipal de São Paulo. Nesta temporada de "Otello" serão comemorados os 65 anos desta apresentação, o centenário de nascimento de Mario e os 50 anos de carreira do diretor, que estreou com uma montagem de "Sansão e Dalila" estrelada pelo pai.
Caberá ao tenor norte-americano Gregory Kunde assumir o papel com o qual o homenageado fez história. "Ele é um dos maiores tenores da atualidade. Não cabe comparar escolas e épocas, mas sem dúvida teremos em São Paulo um dos melhores Otellos que já pisaram o palco do Municipal", diz o diretor artístico do Theatro, John Neschling, que rege a Sinfônica Municipal nas nove récitas.
Kunde está no elenco junto com a soprano croata Lana Kos (Desdemona), o barítono brasileiro Rodrigo Esteves (Iago) e o tenor romeno Marius Brenciu (Cassio).
Ainda há ingressos para "Otello" em pontos menos privilegiados do Theatro.