Cineasta português Manoel de Oliveira morre aos 106
Diretor mais longevo em atividade, ele começou na época do cinema mudo
Com mais de 60 filmes em 84 anos de carreira e conhecido pelo estilo rigoroso, foi selecionado sete vezes para Cannes
Morreu nesta quinta (2), aos 106, o português Manoel de Oliveira, mais longevo cineasta em atividade do mundo e um dos maiores diretores europeus.
Autor de mais de 60 filmes em 84 anos de carreira --incluindo os premiados "Os Canibais" (1988), "Vale Abraão" (1993) e "A Carta" (1999)--, ele teve uma parada cardíaca em sua casa, na cidade do Porto, segundo a produtora de seus últimos longas-metragens.
"Não se ensina a vocação a ninguém. Só a técnica é que se pode aprender", disse em 2005, questionado sobre que conselho daria a jovens realizadores.
Oliveira começou a filmar ainda na época do cinema mudo e dirigiu obras até 2014, quando fez os curtas "O Velho do Restelo" e "Chafariz das Virtudes".
Seu último longa, "O Gebo e a Sombra" --comédia dramática com Michael Lonsdale, Claudia Cardinale e Jeanne Moreau--, foi apresentado no Festival de Veneza em 2012.Em sua longa carreira, trabalhou com atores como John Malkovich, Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni e Michel Picolli, um de seus principais parceiros.
TRAJETÓRIA
Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu em 11 de dezembro de 1908, no Porto, filho de uma família abastada. Considerado mau aluno, dedicou-se ao atletismo, e apenas se interessou pelas artes aos 20 anos, quando entrou na escola de atores fundada pelo cineasta italiano Rino Lupo.
Oliveira rodou seu primeiro filme, o curta "Douro, Faina Fluvial", em 1931. A estreia em um longa de ficção veio em 1942, com "Aniki Bóbó", sobre a infância na região do rio Douro. O filme é um dos precursores do neorrealismo.
Desiludido com o fracasso da primeira ficção, dedicou-se aos negócios da família (vinho e indústria têxtil) e voltaria aos longas duas décadas depois, com "Ato de Primavera" (1963).
Conhecido pelo estilo rigoroso e reflexivo, planos longos, com câmeras fixas, ausência de música e de cenas de sexo e violência, o cineasta encantou críticos, mas espantou, muitas vezes, o público português.
Até os 70, ele era autor de apenas quatro longas.
A consagração internacional veio com "Amor de Perdição" (1979). A partir daí, financiado pelo governo português, passou a filmar com maior constância. Durante os anos 90, ganhou prêmios e homenagens de festivais de cinema como Cannes, Veneza, Berlim e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Selecionado sete vezes para Cannes, Oliveira recebeu uma Palma de Ouro pelo conjunto da obra em 2008. Foi comparado pelo então diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, a Fernando Pessoa, "outro gênio de Portugal".
Dois anos depois, voltou a Cannes com "O Estranho Caso de Angélica". O longa também foi escolhido para abrir a Mostra de São Paulo no mesmo ano.
Oliveira deixa a mulher, Maria Isabel, quatro filhos e cinco netos --um deles o ator Ricardo Trêpa. Ele também deixa pelo menos dois projetos chamados "A Ronda da Noite" e "A Igreja do Diabo" --o último, inspirado em obra de Machado de Assis, teria Lima Duarte no elenco.