Crítica literatura/história
Suíço faz compilação cética dos pilares da teoria da conspiração
Adolf Hitler, John Kennedy, a princesa Diana e dois reis da França são alguns personagens dos capítulos da obra
É a ideia popular de que por trás de um fato espetacular existe mistério
Os americanos não pousaram na Lua, a máfia mandou matar John Kennedy, e a princesa Diana teve sua morte encomendada pela família real britânica. E, claro, Adolf Hitler desembarcou de submarino na Argentina e viveu uma vida longa e próspera. Ah, e o vírus da Aids foi criado em laboratório pela CIA (Agência Central de Inteligência, dos EUA).
Não faltam teorias da conspiração no século 20 e mesmo agora no 21. É a ideia popular de que por trás de um fato espetacular, existe sempre um mistério.
E é fácil de entender como isso se espalha em uma época de comunicação fácil, especialmente pós-internet. Vira viral.
Mas algo parecido já acontecia alguns poucos séculos antes, como mostra o curioso livro "Os Grandes Impostores "" As Verdadeiras Histórias por Trás de Famosos Mistérios Históricos", de Jan Bondeson. O autor nasceu na Suécia, é médico reumatologista; é também professor da Universidade de Wales, Reino Unido. E virou autor de livros de temas bem variados, como anomalias médicas e da zoologia, ou este sobre mistérios históricos.
No caso, são mistérios no sentido de "conspirações". Um capítulo trata da história do herdeiro do trono francês depois da Revolução de 1789; o que teria acontecido com o "delfim" Luís 17? Tornou-se um mito nacional francês.
Outro capítulo trata do misterioso caso do alemão Kaspar Hauser, um menino que teria vivido preso muitos anos em um calabouço. Muitos suspeitavam que ele seria o príncipe de Baden. A história foi filmada pelo premiado cineasta alemão Werner Herzog em 1974 ("O Enigma de Kaspar Hauser"). É um mito nacional alemão.
O livro também inclui capítulos sobre um imperador russo e sobre a realeza e a aristocracia britânicas. Outros mitos nacionais.
Bondeson é cético e cita um bom número de testes científicos para analisar os "impostores". Testes de DNA disponíveis a partir da década de 1990 ajudaram a resolver vários dos casos.
Mas não se trata apenas de ciência versus pseudociência.
Escreve o autor: "outro tema recorrente neste livro é o choque entre a história convencional e acadêmica com a versão romântica da história divulgada por amadores e teóricos de conspiração. Atualmente, um abismo intransponível separa o professor de história de Oxford, que escreve doutos artigos sobre agricultura medieval, ou pontifica sobre as complexidades das leis francesas na época de Luís 16, e o teórico de conspirações que tentar provar que William Gladstone era Jack, o Estripador, ou que Adolf Hitler escapou do bunker de Berlim e viveu até uma idade avançada".
Só para encerrar. Um livro de autor argentino sobre essa sandice de Hitler foi publicado não faz tão tempo assim no Brasil...