Down é punk
Escolha da Finlândia para o festival Eurovision, banda de punk PKN é formada por músicos com down e autismo
A escolha da Finlândia para representar o país na edição deste ano do Eurovision, o tradicional festival europeu da canção, chamou a atenção de publicações musicais de todo o mundo.
A banda Pertti Kurikan Nimipäivät (conhecida pela sigla PKN) será a primeira atração punk da história do concurso, o que já é curioso.
Mas, mais do que o estilo de música, o que diferencia o grupo é o fato de ser formado por quatro homens de meia-idade que têm síndrome de Down ou autismo.
O grupo surgiu em 2009 em Helsinque, num workshop voltado a adultos com deficiência. A iniciativa partiu do guitarrista Pertti Kurikka (que dá nome à banda), que sonhava em ter um grupo punk.
"O punk nos deixa ser nós mesmos", conta o baixista Sami Helle sobre a escolha do estilo. "Ficamos livres para fazer o que gostamos e as pessoas nos aceitam."
Assim como os representantes dos demais países, o PKN foi selecionado a participar do Eurovision por meio do voto popular. "Nossos fãs nos conhecem bem e são fiéis", diz Helle.
O PKN já havia ganhado notoriedade em 2012, com o documentário finlandês "The Punk Syndrome" (a síndrome do punk), que acompanhava o cotidiano dos músicos.
Após o relativo sucesso do filme, a banda conseguiu um contrato com uma gravadora para lançar seu único disco ("Kuus Kuppia Kahvia Ja Yks Kokis", de 2012) e saiu em turnê pela Europa e pelos Estados Unidos, além de ter seus fãs multiplicados --especialmente em seu país natal.
Nas letras de suas músicas, todas em finlandês, o PKN fala de temas que podem ser comuns a qualquer um, como pedicures ruins que machucam seus pés.
Outras letras, porém, parecem denunciar experiências em que foram discriminados por sua condição. "No hospício, eu tenho que comer comida de porco", diz, em tradução livre, a letra de "Puhevika". "Sinto falta do respeito e da igualdade", dispara a letra de "Kallioon".
Helle, contudo garante que esse não é o foco da banda. "Temos deficiências, mas isso não muda nada para nós", afirma, rejeitando votos de quem sente "pena" deles.Mesmo assim, diz querer deixar outros portadores de deficiência orgulhosos.
CRÍTICAS
A participação da banda no concurso europeu, que terá sua fase final em maio, já vem causando polêmica.
O Wiwibloggs, site especializado na cobertura do Eurovision, por exemplo, deu uma nota 1 (de um máximo de 10) para a canção com a qual o PKN se inscreveu no concurso, "Aina Mun Pitää" ("eu sempre tenho que").
"Isso não é música, é apenas barulho com uma boa história", escreveu o júri do site.
A letra fala do aborrecimento de fazer algo que não se quer fazer, como comer coisas saudáveis e lavar a louça.
Mesmo com as críticas, o grupo é considerado um dos favoritos a vencer a competição. Segundo o canal britânico BBC, eles estão em terceiro lugar nas casas de apostas, atrás apenas dos representantes da Itália e da Estônia.
"Só queremos nos divertir", desconversa o baixista. "Se der para ganhar, melhor."
Depois do Eurovision, há muitos planos, como um novo disco e uma turnê mundial. "Cara, precisamos ir ao Brasil", ri Helle. "Seria um sonho tocar no Rio."