Crítica teatro/drama
Montagem fala sobre rejeição e afeto de maneira precisa e delicada
Com poucos objetos de cena, o ator Eduardo Okamoto interpreta a delicada peça "Oe", livre adaptação de Cássio Pires para obra do japonês Kenzaburo Oe.
A montagem parte da relação de um pai com seu filho deficiente mental. Ao abrigar o conflito íntimo, o palco quase vazio é povoado por um fluxo de memórias cujos desdobramentos dão origem a uma partitura gestual tensionada entre os instantes de uma incessante busca espiritual.
Mais do que sentir-se no dever de aceitar a criança, o pai enfrenta a perda da inocência. Como em outros textos autobiográficos, Oe expressa o incômodo de saber que pode ter sido, não o alvo, mas o agente de uma rejeição impura.
O minimalismo da direção de Marcio Aurelio e a transparência dos movimentos de Okamoto deixam espaço livre para fugas oníricas que estalam na reaproximação do pai.
No traçado entre sonho e memória, há a história, belamente contada, de um garoto que morre afogado. O trabalho vocal de Okamoto, sua tranquilidade, não permite que a crueldade se torne ali um mal.