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Comunidade aprova nova novela ambientada em Paraisópolis
"Ah, tia, não dá pra filé-mignon fingir que é mortadela, né?", diz Bruna, "como a Marquezine, só que é da Silva mesmo". Bruna da Silva, 14, tem chapinha no cabelo e olhos fixos no iPhone 5S que o irmão comprou para ela de aniversário --até mesmo quando a atriz xará aparece no telão.
Protagonista de "I Love Paraisópolis", novo folhetim das 19h da Globo, Marquezine gravou uma mensagem para a comunidade, que viu o primeiro capítulo no teatro Hebe Camargo, no CEU Paraisópolis, na zona oeste de SP. Outro telão foi montado na rua, ao lado da união de moradores do bairro.
"Espero que vocês gostem, se identifiquem", diz a atriz, mandando beijinho com a mão. Bruna, a da Paraisópolis real, acha engraçado pensar na "namorada do Neymar" (a global é ex do craque) interpretando meninas como ela --sonhadoras, "doidinhas pra conhecer um príncipe rico".
A esteticista Maria Lúcia, 52, saiu convencida com a performance da atriz nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. "Mostra direitinho como a gente é", diz ela, moradora há 27 anos da comunidade, "desde quando só tinha bar aqui".
Muita coisa mudou, e vai mudar mais a cada "reclame do plim-plim", acredita ela. Maria, que cobra R$ 100 pra fazer massagem em domicílio, só ficou injuriada com a cena em que a vilã Soraia (Letícia Spiller) torce para que uma bomba varra Paraisópolis do mapa.
"Os ricos não gostam que a gente viva aqui. Desvaloriza o apartamento deles. Podia valer três milhões, agora só vale dois", ironiza, em referência aos vizinhos do Morumbi. Com capacidade para 200 pessoas, o teatro lotou com a sessão.
As luzes se apagam às 19h37, e Marizete (Marquezine) e Danda (Tatá Werneck) aparecem nas primeiras cenas, gravadas em Nova York. O público ri, sobretudo com as trapalhadas de Danda --como quando ela briga com um freguês numa lanchonete.
"Chapa quente é pipoca na minha goela", diz Carlos Eduardo da Silva, o MC Carlinhos, 10, na fila para pegar pipoca. O garoto diz que, para a novela parecer de verdade, tem de incluir gírias da comunidade. Tipo "ursa", que quer dizer "periguete que rouba homem da amiga", explica.
Para Maria Emanuellen, 13, é "incrível e estranho" saber que sua vida dá novela. Ela quer ser pediatra quando crescer, coisa que não costumam perguntar a ela.
"Antes, a TV só dava tragédia, só dava 'ruim'. Pelo menos uma vez alguém vai mostrar como as pessoas são, e não um monte de contrabandista", diz a menina, que gosta de cantar reggae e faixas da trilha de "Cinquenta Tons de Cinza".
Já Maria Rita, 15, sonha em esbarrar com o ator Caio Castro pelas vielas da comunidade e mostrar "todo o love" que Paraisópolis tem por ele. "Se todos forem como ele, aí a gente discute", diz.