Presença brasileira em Cannes é tímida, mas já gera barulho
País tem 2 curtas competindo; produção de Rodrigo Teixeira gerou comentários por seus pôsteres explícitos
Diretora de fotografia carioca e montador baiano também fazem parte das equipes de filmes da programação
A participação do Brasil na edição deste ano do Festival de Cannes é pequena --excetuando-se duas coproduções e filmes com brasileiros na equipe técnica, há apenas dois curtas nacionais na programação. Mas não dá para dizer que a participação do país é exatamente discreta.
É produzido pelo carioca Rodrigo Teixeira, por exemplo, o novo longa do argentino Gaspar Noé, "Love". O filme, que será exibido na Sessão da Meia-Noite, causou burburinho em sites americanos de cinema graças a seus sugestivos pôsteres. Num deles, três bocas trocam saliva. Em outro, uma mão aperta uma glande que ejacula.
"É um triângulo amoroso com cenas picantes", disse Teixeira à Folha. "O filme traz uma visão moderna sobre o amor entre jovens: da bissexualidade e muito menos preconceito." Detalhes da trama não foram adiantados, exceto uma breve descrição da obra: "Esperma, fluidos e lágrimas."
Na Semana da Crítica, sessão paralela voltada a iniciantes, concorre o curta brasileiro "Command Action", de João Paulo Miranda Maria, 31. O filme foi todo rodado numa feira popular em Rio Claro (173 km de SP) e narra a história de um garoto pobre encantado com um boneco importado.
"A gente faz um cinema caipira: queremos captar esse interior em que vivemos", diz o diretor, que dá aulas e atua como freelancer na publicidade. "Se eu falo francês? Não. Mas lá todo mundo fala inglês."
A Semana da Crítica também apresenta dois longas coproduzidos com o Brasil: o suspense "La Patota", do argentino Santiago Mitre, sobre uma professora dos subúrbios; e "La Tierra y La Sombra", do colombiano César Augusto Acevedo, sobre diferentes gerações de uma família que mora no campo.
Em outra mostra paralela, a Quinzena dos Realizadores, compete outro curta nacional, "Quintal", de André Novais Oliveira. O mineiro retorna a Cannes com uma pequena produção protagonizada por seus pais, em Contagem (MG).
O turco "Sali" (terça-feira), de Ziya Demirel, compete na mostra principal de curtas. Narra um dia na vida de uma adolescente em Istambul. "Discorre sobre o machismo na Turquia", diz o baiano Henrique Cartaxo, 28, que editou o filme a convite do diretor, com quem fez um curso livre de cinema em Praga.
"A montagem envolve ritmo, e o diretor gosta do meu, tem a ver com a minha brasilidade", afirma Cartaxo.
No longa mexicano "Las Elegidas", de David Pablos, não há ritmo, mas olhar brasileiro. A direção de fotografia é da carioca Carolina Costa, 30, rara mulher num ofício dominado por homens.
"Já levei muita patada, muito desaforo", diz ela, que estudou na Inglaterra e nos EUA. "Las Elegidas", que tem como pano de fundo a prostituição de mexicanas, concorre na mostra Um Certo Olhar.