Festival De Cannes
Drama sobre holocausto é candidato à Palma de Ouro
Filme húngaro 'Saul Fia' dividiu as atenções com comédia grega 'The Lobster'
Cineasta estreante choca com longa que retrata um prisioneiro em Auschwitz e vira assunto mais falado no terceiro dia da mostra
Após quase três dias de competição, o 68º Festival de Cannes finalmente recebeu os primeiros candidatos sérios à Palma de Ouro: o drama húngaro de guerra "Saul Fia" (o filho de Saul) e a comédia grega esquisita "The Lobster" (a lagosta).
O primeiro foi apresentado na noite de quinta (14), mas já virou o grande assunto no evento. Mesmo sendo uma obra de um diretor estreante, Laszlo Nemes, "Saul Fia" é ambicioso e corajoso como há muito não se via em Cannes.
Passado durante 36 horas em Auschwitz, em 1944, o filme acompanha Saul Ausländer (Geza Röhrig), um judeu húngaro que é membro do Sonderkommando, prisioneiros com tratamento "especial", que cuidam das tarefas cotidianas dos campos de concentração: levar outros prisioneiros para as câmaras de gás, limpar o chão coberto por fezes e urina, carregar os corpos depois.
QUADRADO
Com o recurso da projeção em proporção 1:33 (similar a um quadrado no centro da telona), Nemes persegue seu protagonista em dezenas de planos sem cortes, que chocam em sucessão --não só pelas imagens, mas também pelo som de gritos e tiros.
Em um deles, Saul alega que seu filho é uma das vítimas na câmara de gás e fica obcecado em dar um enterro digno ao menino, mesmo entregando a própria vida e de prisioneiros que planejam uma fuga.
AMOR OBRIGATÓRIO
Já "The Lobster", que abriu esta sexta-feira (15), é um alívio esquisito depois da experiência de guerra. O grego Yorgos Lanthimos ("Dente Canino") veio com a melhor premissa do festival: humanos são hospedados em hotéis especiais para encontrar um amor verdadeiro em 45 dias --em caso de falha, eles são transformados em animais.
Colin Farrell faz o protagonista, um homem de meia idade que se separou recentemente da mulher e tenta achar seu par. Tanto que se envolve com uma sociopata sem coração (Angeliki Papoulia) e tenta o possível para mostrar que tem coisas em comum com a mulher.
Pena que a realização não mantenha o ritmo da premissa. Apesar do início poderoso --uma mulher que, sem mais nem menos, mata um jumento-- e do humor afiado de Farrell na sequência em que faz o check-in no hotel, o filme se perde com a entrada de um grupo de solteiros que vive na floresta e é contra o regime antropomórfico da sociedade.
Esses radicais não podem se envolver uns com os outros. Mas o personagem de Farrell se apaixona por uma colega (Rachel Weisz), despertando a fúria da líder vivida por Léa Seydoux.
É quando os paralelos com as pressões reais por casamentos, segurança sexual e convenções sociais deixam de ser divertidos e chegam a cansar. A estranheza, no entanto, agradou, e o filme foi aplaudido na primeira sessão do evento.