Companhia do Latão comemora 18 anos com mostra e nova peça
Com influências de Brecht e Boal, grupo revisita seu repertório
A Cia. do Latão vem de berço. Não de berço abastado, mas ainda assim nobre: nasceu em 1997, ocupando o Teatro de Arena paulistano, mesmo palco por onde passaram importantes montagens de obras de Bertolt Brecht (1898-1956) e Augusto Boal (1931-2009) entre os anos 1950 e 70.
E é na tradição desses autores que o grupo baseia seus trabalhos, voltados à crítica social e política. Agora completando 18 anos, a companhia comemora a maioridade a partir de sexta (3) com a mostra Processos do Latão, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.
A programação abriga a estreia de "Os que Ficam", peça feita por integrantes do grupo em parceria com atores convidados e cuja primeira versão estreou em janeiro, no Rio.
Escrita por Se?rgio de Carvalho, diretor do Latão, a trama se passa na década de 1970, quando um grupo de teatro encena "A Revolução na América do Sul", de Boal, pouco mais de uma década após o texto ter sido escrito --e quando o dramaturgo já partira para o exílio.
Sem contato com Boal e vivendo em um regime repressor, a companhia se vê diante de uma crise: como concluir o trabalho --sobre um operário que passa fome enquanto, ironicamente, é cortejado por candidatos ao governo-- em um ambiente de censura?
"Eu acho os anos 1970 muito importantes", comenta Carvalho. "Depois de 1968 [com a instituição do AI-5], uma geração de artistas de teatro político é obrigada a se exilar ou a abandonar a temática social das obras."
"Os que Ficam" é permeado por outros textos de Boal (de cartas a exercícios teatrais) e um trecho do livro "Teatro sob Pressão", do crítico Yan Michalski. "Ele traduz bem o sentimento de paralisia da época", diz Carvalho.
A intenção, explica o encenador, é que o espetáculo reflita não só a temática de Boal, mas também a forma de seu teatro, marcado por contradições, de falas a situações.
REPERTÓRIO
A companhia paulista aproveita a mostra para revisitar trabalhos antigos. Na série Clássicos do Latão, apresenta cenas (comentadas pelos artistas) de peças de autoria do grupo e de textos de Brecht já encenados pelo coletivo.
"Ópera dos Vivos" (2010), peça em quatro atos e uma das mais ambiciosas do Latão, terá projeções de sua versão cinematográfica. O filme tem locações e roteiro inspirados no espetáculo, que reflete sobre a produção cultural brasileira desde os anos 1960.
A música, muito presente nos trabalhos do coletivo, estará em dois shows: um com trilhas de espetáculos do Latão e outro na voz de Juçara Marçal (antiga parceira da companhia), que canta músicas de peças dirigidas por Boal.
Por fim, o grupo faz o ensaio aberto "Experimento H". Trata-se, conta Carvalho, de um "exercício, que talvez vire um espetáculo no futuro", e mostra o contraste entre personagens, como uma diarista e a atriz Marilyn Monroe.
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PROGRAMAÇÃO
Clássicos do Latão 1: Visões do Brasil
Cenas comentadas de peças escritas pelo Latão>> Sex. (3), às 20h. 16 anos.
Ingr.: R$ 6 a R$ 20
Clássicos do Latão 2: Releituras
Cenas comentadas de peças de Brecht encenadas pelo Latão>> Sáb. (4), às 19h. 16 anos. Ingr.: R$ 6 a R$ 20'
Experimento H'
Ensaio aberto inspirado em textos de Truman Capote>> 29 a 30/7, às 20h. 16 anos. Ingr.: R$ 6 a R$ 20
Filme 'Ópera dos Vivos'
Baseado na peça homônima dividia em quatro atos>> 15 (atos 1 e 2) e 22/7 (atos 3 e 4), às 20h. 16 anos. Grátis
Peça 'Os que Ficam'Grupo de teatro em crise ensaia 'Revolução na América do Sul', de Boal, nos anos 70>> Qui. e sex., às 20h,sáb., às 19h, dom., às 18h. De 11 a 26/7. 16 anos. Ingr.: R$ 9 a R$ 30
Show 'Cancioneiro do Latão'
Com músicas compostas para de espetáculos do Latão>> Dom. (5), às 18h. 16 anos.Ingr.: R$ 6 a R$ 20
Show de Juçara Marçal
Com canções de peças dirigidas por Boal, como "Arena Conta Zumbi">> 31/7, às 20h. 14 anos.Ingr.: R$ 6 a R$ 20
Sesc Bom Retiroal. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600