O jogo da moda
Olimpíada 2016, no Rio, quer promover estilo de vida da cidade-sede com venda de roupas de grifes paulistas e catarinenses; cariocas reclamam
Os Jogos Olímpicos do Rio serão lembrados como o evento da moda e do design que traduz o estilo de vida carioca.
Pelo menos é essa a premissa do COI (Comitê Olímpico Internacional) ao instituir que, na Olimpíada de 2016, o licenciamento de produtos não se resumirá à venda de mascotes, canecas e chapéus, praxe dos jogos anteriores, mas contemplará biquínis, moda casual e esportiva, joias, sandálias de dedo e cangas.
A Folha teve acesso à lista dos 45 contratos fechados até agora entre COI e grifes de moda, marcas de bichos de pelúcia e canecas, entre outros.
Apesar do clima de festa na areia, só duas das dez grifes que fecharam contrato –vencedoras de uma concorrência feita pelo Programa de Licenciamento Rio 2016– são cariocas. A festa será, em sua maioria, paulista e catarinense.
Os biquínis e maiôs serão confeccionados pela paulista Fabíola Molina. As bermudas, vestidos e conjuntos de roupa masculina e feminina, pela varejista catarinense Malwee.
Os óculos de sol serão feitos pela americana Oakley e as pranchas de surf, pela catarinense World Brands, dona da grife Mormaii.
Os itens serão vendidos em pontos autorizados pelo COI, como em aeroportos e lojas oficiais instaladas em Copacabana e na Vila Olímpica, na região da Barra da Tijuca.
As marcas Lisht, dos irmãos Lui e Lisht Marinho, que atuam no ramo de joias, e Blue Birds, de cangas, são as únicas cariocas na lista de moda do comitê.
A americana Nike venceu a concorrência para a produção de vestuário esportivo. A marca é alvo de investigações nos EUA por suspeitas de pagamento ilícito à Confederação Brasileira de Futebol.
Ex-atleta da seleção brasileira de natação, Fabíola Molina mantém há dez anos uma marca homônima de trajes de banho. Ela espera que os designers cariocas "não fiquem ciumentos".
"É uma marca brasileira, o importante é isso", diz ela, que vende biquínis e maiôs feitos com tecidos resistentes ao cloro e durabilidade superior à da lycra, principal matéria-prima da moda praia.
"Nunca ouvi falar [dela]", diz a estilista carioca Lenny Niemeyer, uma das mais famosas do segmento praia no Rio (ao lado das marcas Blue Man e Salinas). "Não fui procurada para essa concorrência. Talvez não tenha como produzir a quantidade que eles [o COI] precisam."
Molina tem apenas uma loja em São José dos Campos (SP) e um canal de vendas on-line. Ela espera produzir até 6.000 peças antes e durante os Jogos, a preços que variam entre R$ 120 e R$ 200.
'MARCA BRASIL'
"O importante é a marca Brasil", defende a paulista Sylmara Multini, gerente do Programa de Licenciamentos dos Jogos do Rio-2016.
A Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), que representa as grifes e as indústrias ligadas à moda carioca, vê com estranheza a falta de mais marcas do Rio.
"Aqui temos grifes e indústrias capazes de produzir e distribuir um bom número de peças, como a Farm [grife de roupas femininas e estampadas do grupo Soma, que também é dono da Animale]", diz Ana Carolina Fernandes, especialista de moda da Firjan.
Multini não diz quais marcas entraram na concorrência pelo licenciamento de produtos, mas afirma que a licitação foi aberta a todos.
Cerca de 20% do faturamento com as vendas, segundo ela, vão para o comitê. O COI espera movimentar R$ 1 bilhão no varejo brasileiro com os produtos. Os guias visuais –sugestões para os licenciados– foram feitos por três designers.