Grupo celebra Mário de Andrade em 2 peças
Companhia do Feijão homenageia escritor modernista com programação no Sesc Ipiranga
Foi a obra de Mário de Andrade (1893-1945) que moveu a criação da linguagem da Companhia do Feijão, hoje voltada a pesquisas literárias.
Logo que nasceu, o grupo mergulhou no livro "O Turista Aprendiz" –sobre viagens do escritor ao Norte e ao Nordeste–, que deu origem à peça "O Ó da Viagem" (1999).
O autor serviu então de norte para os trabalhos da companhia. "Não só do ponto de vista do artista que escrevia histórias, mas também do pensador que falava da arte e da sociedade brasileira", diz Pedro Pires, diretor e cofundador do Feijão.
A partir de então, o coletivo passou a se aprofundar em pensadores como Sérgio Buarque de Holanda e em escritores como Machado de Assis e Clarice Lispector.
E, para celebrar os 70 anos de morte do escritor, a companhia apresenta em São Paulo uma programação voltada ao autor de "Macunaíma".
A partir desta sexta-feira (14), há sessões da montagem "Armadilhas Brasileiras" (2013), inspirada em três obras de Mário: "Café", a inacabada "O Banquete" e "A Meditação sobre o Tietê.
A trama discute o engajamento político. Uma trupe teatral ensaia uma peça sobre a crise econômica dos anos 1920. Mas, no processo, o elenco entra em crise, questiona o sentido da arte e o papel do artista na sociedade. "É um impasse entre a ira e a completa desilusão", diz Pires.
O Feijão também estreia na mostra seu novo espetáculo, "Manuela", que faz um apanhado da obra de Mário.
O título vem do nome que o escritor dava à sua máquina de escrever –homenagem ao colega Manuel Bandeira.
"A história é contada pela personagem da máquina", explica a atriz Vera Lamy, idealizadora da montagem
"Mário pouco viajava. Eu, que interpreto a personagem da máquina, uso as poucas saídas dele como fio condutor da história. Ele vai para o sítio do tio e volta com "Macunaíma", passa uma temporada no Rio de Janeiro e repensa o movimento modernista."
A trama é toda musicada, e Vera é acompanhada em cena pelo músico Lincoln Antonio, que assina os arranjos. "Mário era muito polifônico", diz Lincoln. "Então há composições mais líricas e outras mais urbanas, além de influências de Villa-Lobos e Ernesto Nazareth."
No dia de nascimento do escritor (9 de outubro), "Manuela" terá uma sessão na Casa Mario de Andrade (r. Lopes Chaves, 546), imóvel onde o autor viveu em São Paulo
CIA DO FEIJÃO - 70 ANOS SEM MÁRIO DE ANDRADE
QUANDO "Armadilhas Brasileiras": sex. (14) e sáb. (15), às 21h, dom. (16), às 18h; "Manuela": ter. e qua., às 21h30, até 7/10
ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
QUANTO R$ 6 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO livre ("Manuela") e 14 anos ("Armadilhas Brasileiras")