Crítica Literatura/romance
Trama vencedora do Booker Prize prende a atenção, mas carece de dramaticidade
É impossível descolar "O Caminho Estreito para os Confins do Norte" da experiência que deu origem ao romance. Ao ver seu pai aproximando-se da morte, o australiano nascido na Tasmânia Richard Flanagan, 54, viu-se na obrigação de vencer mais de uma década de hesitação e finalmente escrever uma ficção baseada nas histórias que ouvia desde garoto.
Flanagan pai havia sido um dos cerca de 300 mil prisioneiros de guerra do Japão que foram obrigados a trabalhar na construção da chamada "ferrovia da morte", em 1943, entre a Tailândia e Mianmar.
Foi um dos poucos a sobreviver. Como Flanagan reforça, houve mais mortos nesse terrível episódio do que no bombardeio a Hiroshima e do que a quantidade de palavras que escreveu em seu livro (que na edição brasileira tem 430 páginas).
ALGOZES DO PAI
Após longa pesquisa, que incluiu viagens ao Japão para entrevistar algozes do pai, Flanagan voltou com rico material, escreveu seu romance e viu o pai morrer no dia em que pôs, nele, o ponto final.
Seu esforço foi reconhecido ao receber o Man Booker Prize no ano passado. Do ponto de vista literário, porém, "O Caminho Estreito..." deixa a desejar.
Descrever com detalhes a crueldade de espancamentos e a desolação daqueles que caminhavam esquálidos para a morte pode até prender a atenção do leitor, mas por si só não dão corpo a um romance.
É interessante o modo como introduz o olhar dos oficiais japoneses, levando o leitor a concluir que também estes eram vítimas. O conceito de bons ou maus se dilui.
Mas a trama ficcional que Flanagan constrói para costurar a história, a do médico militar Dorrigo Evans em vários momentos de sua vida, é arrastada e pouco envolvente, esvaziando a obra de dramaticidade.
O CAMINHO ESTREITO PARA OS CONFINS DO NORTE
AUTOR Richard Flanagan
TRADUÇÃO Celso Mauro Paciornik e Augusto Pacheco Calil
EDITORA Biblioteca Azul
QUANTO R$ 44,90 (430 págs.)
AVALIAÇÃO regular