Filme de Babenco irá abrir Mostra de SP
Com orçamento que deve ficar entre 30% e 40% menor do que em 2014, festival de cinema começará em outubro
Além de drama baseado em doença do diretor de 'Carandiru', programa terá longa húngaro premiado em Cannes
Terá programação metalinguística a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorrerá de 22 de outubro a 4 de novembro sob impacto da crise econômica.
A vocação cinéfila está escancarada no filme de abertura, o inédito "Meu Amigo Hindu", mais recente produção de Hector Babenco ("Carandiru"). Em parte autobiográfico, o longa trata dos dilemas de um cineasta que resistiu a uma doença grave.
Além dele, uma sessão especial exibirá mais de 20 longas restaurados pela Film Foundation, a entidade criada em 1990 pelo diretor Martin Scorsese para preservar o legado do cinema no mundo.
Cinéfila ou não, será uma mostra sob arrocho. O orçamento da próxima edição, composto de recursos via leis de incentivo e patrocínio direto, deverá ser entre 30% e 40% menor do que no ano anterior, segundo Renata de Almeida, diretora do evento.
Se em 2014 ela dispôs de cerca de R$ 6 milhões para tocar o festival, agora prevê um cobertor mais curto –resultado da alta do dólar e da crise, que afastou patrocinadores. "Ainda não fechamos todos os patrocínios. Espero que venham novos", afirma.
A festa de abertura, por exemplo, está cancelada. Fornecedores tiveram de ser trocados, e o número de convidados foi reduzido por causa do preço das passagens.
SCORSESE E BABENCO
Renata diz que a programação terá cerca de 250 filmes –em 2014, foram 330.
O húngaro "Saul Fia", de László Nemes, é provavelmente o maior destaque: premiado no último Festival de Cannes, narra o cotidiano de um prisioneiro de campo de concentração forçado a cremar o corpo de outros judeus durante a Segunda Guerra.
Filme de abertura, "Meu Amigo Hindu" marca a volta de Babenco aos longas depois de oito anos –o último tinha sido "O Passado", que inaugurou a 31ª edição da Mostra.
No novo filme, rodado em São Paulo no início do ano, o americano Willem Dafoe interpreta um cineasta que, após sobreviver a uma enfermidade, reavalia seu lugar e o de sua obra no mundo.
Procurado pela reportagem, Babenco preferiu não comentar o filme ou a indicação para abrir a Mostra. Em entrevista à Folha, em fevereiro, o diretor argentino naturalizado brasileiro descreveu o longa como uma "viagem de busca interior".
"Não é alegre, mas tem um final muito solar", disse, sobre a jornada introspectiva do personagem principal, que procura o garoto hindu com quem conviveu no hospital.
Como o protagonista, Babenco também passou por uma doença grave: um câncer linfático nos anos 90.
"É o '8 1/2' do Babenco", diz a diretora da Mostra, citando o filme de Fellini sobre um diretor em bloqueio criativo. "Casava com a proposta de homenagem ao cinema."
Nos 25 anos da Film Foundation, o evento tem confirmados 23 títulos dentre os 600 preservados pela entidade criada por Scorsese. O americano até desenhou o pôster desta edição, com base em storyboards de seu filme "Silence", previsto para 2016.
Segundo Renata de Almeida, a homenagem à fundação vem a calhar. "Levanta a bandeira da preservação no momento em que a Cinemateca vive um impasse", diz.
Em crise administrativa, a instituição responsável pelo acervo cinematográfico do país perdeu dois terços de seus funcionários desde 2013.
-