Crítica filme na TV
Com humor, cineasta muda o foco do amor para o social
Talvez o juízo mais profundo sobre Madame de La Fayette venha de Camus, que vê em seus livros uma forte desconfiança do amor. O amor é perigoso, acredita ela.
Ao límpido estilo da autora de "A Princesa de Clèves" corresponde o límpido estilo de Manoel de Oliveira ao trazer seu texto para o cinema. Em "A Carta" (1999, 14 anos, TV Brasil, 0h20 de quarta), Oliveira adapta a história com liberdade e fidelidade totais: a princesa é uma rica senhora casada. O homem que a ama e é correspondido, um roqueiro.
Com humor, o cineasta transfere o drama do amor para as diferenças sociais. Com mais humor, introduz uma solene negação do tempo, quando a sra. de Clèves busca conselhos espirituais com sua amiga religiosa.
Religiosa jansenista... Os jansenistas são coisa do tempo de Mme. de La Fayette, do século 17. Mas Oliveira está certo: há níveis em que o tempo não passa.