Festival de Veneza
'Thriller geriátrico' é aplaudido na mostra
'Remember' tem protagonista octogenário que quer se vingar de oficial nazista, mas às vezes se esquece da missão
Após ter sido vaiado no Festival de Cannes, o diretor Atom Egoyan causa boa impressão com novo filme
Depois da vaia que tomou no Festival de Cannes, no ano passado, quando apresentou o irregular "À Procura", o diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan se arrisca com mais um suspense: "Remember" fez sua estreia mundial nesta quinta (10), em Veneza.
Mas ao contrário do que se deu na França, a imprensa na mostra italiana aplaudiu bastante esse "thriller geriátrico" sobre o Holocausto.
Christopher Plummer interpreta Zev, um octogenário sobrevivente de campo de concentração que resolve empreender uma vingança contra o oficial nazista que exterminou sua família. Pesa contra Zev uma demência senil moderada, que por vezes o faz se esquecer do propósito de sua missão.
"É um filme sobre memória, mas sobretudo sobre trauma", diz Egoyan à Folha. "Era importante tratar do tema do nazismo nos dias de hoje: as testemunhas daquele tempo já estão velhas e frágeis. E para os mais jovens, todo aquele absurdo parece improvável."
VIA SKYPE
O elenco traz também o americano Martin Landau e o suíço Bruno Ganz (que interpretou Hitler em "A Queda"): "já estou um pouco cheio de fazer filmes sobre o tema", brincou.
Plummer, cuja performance foi bastante elogiada no Lido, não veio a Veneza, mas foi ovacionado assim que seu rosto apareceu via Skype na entrevista coletiva que se seguiu à projeção do filme.
"Esse personagem não foi fácil. Sempre interpreto gente com autoridade, ou até com alguma realeza, mas esse era um tipo comum, introvertido, alguém que não tem outro objetivo senão essa missão", disse o prolífico ator de 85 anos, que só foi ganhar seu único Oscar em 2010, por "Toda Forma de Amor".
CONTATO FÍSICO
Já a coprodução México-Venezuela "Desde Allá" levou a realidade das ruas de Caracas para o Lido. Dirigido pelo estreante em longas Lorenzo Vigas, é a segunda das duas obras latino-americanas na competição; a outra foi a argentina "El Clan", de Pablo Trapero.
O drama trata de um sujeito de meia-idade com evidente dificuldades em se aproximar dos outros: mantém o hábito de pagar para que jovens pobres se dispam na sua frente, sem incorrer em qualquer contato físico.
Cruza o seu caminho um adolescente em busca de afeto, personagem que também se encontra em outro espectro social: é um delinquente que perambula pelas ruas de Caracas.
"É mais um filme sobre carências emocionais do que sobre homossexualidade", afirma o diretor venezuelano. "Vivemos num país em que se grita, se canta, se toca muito. Explorar a vida de alguém com essa barreira era interessante."