Velha e boa
Aos 57 anos, 30 deles de shows, Madonna emociona e se diverte com hits antigos em nova turnê
Madonna ainda tem algo a dizer? Afinal, são mais de 30 anos de shows, imagens, personagens e polêmicas. No show da turnê "Rebel Heart" realizado nesta quarta (16), em um Madison Square Garden lotado, em Nova York, a cantora mostrou que, no mínimo, ainda tem uma carta na manga: a nostalgia.
E clássicos não faltam nesta turnê. Das 29 músicas do show, 16 são hits consagrados. Em pleno 2015, só Madonna, 57, pode se dar ao luxo de viajar o mundo, cobrar preços astronômicos pelos ingressos de seus shows e oferecer ao público uma compilação imbatível de sucessos.
A extravagância pode ser dividida em dois momentos. O primeiro, mais frio e pomposo, é a Madonna "atual e antenada". Mistura a série "Game of Thrones" com samurais. Um exército de guerreiros a escolta em "Iconic". A performance lembra as cenas épicas da personagem Khaleesi na série da HBO. Na sequência, a coreografia de "Bitch I'm Madonna", com leques chineses, mira o Oriente. E já na terceira música, Madonna resolve chocar.
"Holy Water" é acompanhada por dançarinas de lingerie e véus de freira sensualizando em postes em formato de cruz. Na sequência, o famoso rap de "Vogue" é acompanhado, no telão, por imagens de figuras religiosas renascentistas. A clássica fórmula de sexo e religião surge quando a cantora faz uma paródia herege da Santa Ceia.
A segunda metade do show é sua mina de ouro. Madonna manda "Like a Virgin" e encarna Frida Kahlo para cantar um medley de "Dress You Up", "Into the Groove" e "Lucky Star". "Who's That Girl" aparece em versão acústica. Os fãs choram.
"Eu sou uma sobrevivente", ela os consola, ao relembrar a primeira vez em que tocou no Madison Square Garden há 30 anos, com sua primeira turnê, e agradecer os fãs. No momento mais fofo do show, ela puxa um ukelele e canta "True Blue", hit de 1986 que havia sumido de seu repertório.
A partir deste momento, fica evidente que as coreografias estão mais elegantes e menos puxadas para a cantora. Para compensar, Madonna utiliza recursos cênicos como uma escada suspensa em "Heartbreak City" e "Love Don't Live Anymore".
O tombo no palco do Brit Awards, em fevereiro, deixou a cantora traumatizada. Mas ela não dá o braço a torcer e recria a performance do jeito que havia planejado, trajando uma longa capa. Destaque para o visual showgirl dos anos 1920, à la Josephine Baker, do estilista Jeremy Scott.
No último bloco do show, o visual art déco domina o palco e Madonna surge coberta de cristais Swarovski.
Com vocal inspirado, ela canta "La Vie en Rose", o hino de Piaf, com francês irrepreensível. Chama ao palco a comediante Amy Schumer, que abrira o show com um stand-up, para acompanhá-la na dança em "Unapologetic Bitch" e ser presenteada com uma"¦ banana!
"Music" e "Holiday" encerram a festa e Madonna é erguida para o topo do palco no final apoteótico. O show, que não tem previsão de vir ao Brasil, é divertido, leve e despretensioso. O setlist é eclético e equilibra hits antigos com novos. E é emocionante ver como Madonna parece estar realmente se divertindo.
Depois de ditar os rumos da música pop pelas últimas três décadas, Madonna ganhou o direito de relaxar e vasculhar seu próprio baú. Se ela ainda tem algo a nos dizer, descobriu que a resposta está na sua própria história.