Mankell, mestre sueco do romance noir, morre aos 67
Criador da série de livros protagonizada pelo detetive Kurt Wallander lutava contra um câncer havia dois anos
Autor projetou o gênero policial nórdico para o mundo e abriu caminho para nomes como Stieg Larsson e Jo Nesbø
O escritor sueco Henning Mankell, um dos grandes autores de romances policiais nórdicos, morreu na segunda-feira (5), aos 67 anos. Ele lutava contra um câncer havia quase dois anos
A notícia foi confirmada por seu editor, Dan Israel, com quem fundou a editora independente Leopard, em 2011: "Morreu de maneira tranquila enquanto dormia em Gotemburgo [cidade no sudoeste da Suécia]".
Mankell ficou mundialmente famoso pela série de romances protagonizada pelo detetive Kurt Wallander, em que apresentava uma visão desiludida da social-democracia escandinava.
Aos 20 anos, ele começou a escrever para o teatro. Também fez parte dos protestos contra a Guerra do Vietnã em 1968. Sempre à esquerda, seu posicionamento ideológico viria a acompanhar sua literatura –o introspectivo Wallander vive a perseguir criminosos que fazem parte da elite financeira– e a vida pessoal: em 2010, integrou uma frota humanitária com destino a Gaza.
O grupo foi interceptado por uma unidade israelense, e o autor chegou a ser preso.
Com o personagem de Wallander, Mankell projetou o noir nórdico para o mundo todo, abrindo caminho a escritores como Stieg Larsson (1954-2004), Camilla Läckberg e Jo Nesbø. Vendeu 40 milhões de livros ao longo de sua carreira e deixa uma obra de quase 40 títulos, entre romances policiais e infantis.
CÂNCER
Numa coluna publicada em 2014 no "Göteborgs-Posten", Mankell revelou que enfrentava um câncer –que começou no pescoço e depois se espalhou por seu corpo.
"Minha ansiedade é muito profunda, mas consigo, em grande medida, controlá-la", disse. Ele escreveu sobre a experiência em seu último livro, "Quicksand: What It Means to Be a Human Being" (em português, "areia movediça: o que significa ser humano").
Ao jornal "The Guardian", Nesbø lamentou a morte do colega. "Ele deu continuidade e modernizou a tradição escandinava de ficções sobre o crime, iniciada por Maj Sjöwall e Per Wahlöö [considerados os "pais no noir nórdico"], tanto no estilo como no conteúdo. Foi um dos pioneiros na literatura policial da Escandinávia, se não o autor mais importante."
Ele deixa um filho, Jon Mankell, e a mulher, Eva Bergman, filha do cineasta Ingmar Bergman (1918-2007) e com quem o escritor era casado desde 1998.