Dólar vai a R$ 2,60, mesmo com ação do BC
Reforço nas intervenções no câmbio não impede alta da moeda, motivada por dúvidas sobre equipe econômica
Cotação nominal é a maior desde 18 de abril de 2005, mas valor real equivale ao de julho de 1994, no início do Real
O dólar à vista (referência no mercado financeiro) fechou nesta segunda (17) a R$ 2,604, com valorização de 0,2%, apesar do reforço nas intervenções pelo Banco Central por meio de títulos (swap cambial) que equivalem à venda de dólares a prazo. Na sexta, o BC elevou de US$ 450 milhões para US$ 700 milhões a oferta dos contratos que vencem em dezembro.
Nesse patamar, o dólar está na maior cotação nominal desde 18 de abril de 2005, mas praticamente no mesmo valor real (descontadas as inflações do Brasil e dos EUA) de julho de 1994, quando entrou em vigor o Plano Real e a moeda americana valia exatamente R$ 1 (veja acima).
Atualizado pelo IPCA, o R$ 1 seria hoje R$ 4,115; o dólar valeria US$ 1,61, contando o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) dos EUA. Logo, o US$ 1 de 1994 equivaleria a R$ 2,556 --1,88% abaixo dos R$ 2,60 desta segunda.
Vinte anos depois, o real se desvaloriza devido ao escândalo de corrupção na Petrobras e às dúvidas em relação à nova equipe econômica.
Pelo câmbio comercial, usado no comércio exterior, a moeda fechou a R$ 2,603, com alta de 0,11%.
Quando foi lançado o Plano Real, em 1994, o dólar era uma âncora para evitar a escalada da inflação por meio da abertura do país aos produtos importados. Hoje, o país está ainda mais aberto aos importados (leia mais na pág. B8). Por isso, a alta da moeda pressiona a inflação.
À época, os exportadores também reclamavam do câmbio, que tirava a competitividade dos produtos brasileiros. Hoje, os mesmos exportadores gostariam que o dólar estivesse em R$ 3, mas admitem que nem isso aumentaria a inserção do Brasil no comércio internacional.
"O mundo é outro. Naquela época a China não tinha entrado no comércio global. E o problema não é só o câmbio. A mão de obra é cara, os impostos são altos, a indústria está sucateada e falta infraestrutura", disse o economista Primo Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior.
Para Marcos Weigt, especialista em gestão de riscos da SH Capital, "não é justo" comparar o real com o dólar americano em um período de 20 anos, porque a economia americana teve um ganho de produtividade que deflacionou os preços, especialmente de industrializados.
Já o Brasil foi perdendo eficiência com a obsolescência da infraestrutura. Teve aumento do custo da mão de obra pela valorização do salário mínimo e pela ascensão da classe média.
"O melhor seria comparar o real com uma cesta de moedas de emergentes."