Estigmas acompanham sobreviventes
Há dez anos lutando contra uma forma de leucemia, o vendedor Vagner Rodrigues, 46, viu as finanças desabar. Há cinco, mudou-se com mulher e dois filhos, de 12 e 17 anos, para a casa dos pais, em São Caetano do Sul (SP).
"Antes, viajávamos, íamos a restaurantes. Tivemos que eliminar. Há cinco anos, temos uma sobrevida", conta, fazendo uma analogia com a doença.
Rodrigues recebe auxílio-doença de um salário mínimo. A mulher trabalha como recepcionista. "Se não tivéssemos meus pais, não sei o que teria sido." Ele espera um transplante de medula óssea. "Ou saro ou morro. Mas quero correr esse risco."
Após descobrir um câncer de mama há três anos, a doméstica Leila Faria Jorge de Souza, 56, foi afastada do trabalho. Recebeu auxílio-doença do INSS por oito meses, mas a patroa não a chama de volta.
Leila diz que, com as sequelas da cirurgia, não aguenta a faxina. Propôs fazer serviços mais leves ou ser demitida. "Ela quer que eu peça as contas. Não vou perder meus direitos."
O tumor de mama pegou a gerente de marketing Regina Rappoli, 49, desempregada "após quase 28 anos de carteira assinada".
Desde abril último, quando a perícia a liberou, tenta se recolocar. "Já senti a discriminação durante as entrevistas. Querem o funcionário zerado."