Mercado MPME
Aperto econômico dificulta repasse do aumento do IPTU
Empresários de SP podem ter dificuldades para elevar valor dos produtos e compensar alta no imposto em 2015
Especialistas dizem que não é indicado absorver custo maior e sugerem criar diferenciais para poder cobrar mais
Dona do "nail bar" Maria Joaquina, onde clientes fazem as unhas e tomam drinques, Maria Benedini, 28, planeja repassar o aumento do IPTU em São Paulo para suas clientes da mesma forma como transferiu o aumento de R$ 206 do aluguel do espaço de 100 m² em novembro. O estabelecimento fica em Pinheiros, na zona oeste.
Para não assustar a clientela, comunicou a alteração um mês antes. "Escrevi em um porta-retratos: Queridas clientes, a partir de novembro, teremos reajuste, confiram'. Expliquei os motivos para as mais próximas, e elas entenderam", diz.
No fim do mês passado, o Tribunal de Justiça permitiu o reajuste do imposto em São Paulo em 2015, em índices que vão até 30%.
No caso de Benedini, a elevação da parcela mensal do IPTU ocorrerá até 2016 e deve ser de cerca de R$ 59, se levado em consideração o aumento médio estimado pela prefeitura para a região. Mas dessa vez, repassar o ajuste pode não ser simples.
Para Jaime Vasconcellos, assessor econômico da Fecomercio-SP, por causa da desaceleração da economia, os clientes estão endividados e arredios. "O empresário vai ter que tomar muito cuidado para subir o preço ou cortar nos custos", diz.
O último levantamento da Fecomercio-SP, feito em agosto, identificou uma queda de 13% no faturamento bruto do comércio na cidade de São Paulo em relação ao mesmo mês de 2013.
Professor de violão no bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo, Paulinho Paraná, 60, deve receber um acréscimo de R$ 14,20 no valor mensal do IPTU em 2015.
Isolado, o valor não assusta, mas, somado aos ajustes no aluguel do ano passado e o previsto para 2015, são dez horas de aula por mês.
Ele ainda estuda se vai repassar o custo para os clientes. "Estamos no Portal da Burguesia', ao lado de Higienópolis, mas aqui as pessoas têm outro poder aquisitivo."
Como é um microempreendedor e trabalha de casa, Paulinho deve ter um reajuste de 10,5% no IPTU, que é o aumento médio para imóveis residenciais na região. Se trabalhasse num prédio comercial, a alta seria de 28,5%.
O limite para o reajuste anual é de 15%, por isso alguns negócios só devem sofrer todo o aumento em 2016. Para estabelecimentos não residenciais, o ajuste será em média de 26%.
APERTO
Segundo Sandra Fiorentini, consultora do Sebrae-SP, para a maioria das micro e pequenas empresas a margem de lucro é reduzida. Por isso, ela não recomenda que um empresário como Paulinho absorva os custos, a não ser que tenha gastos como energia ou água que possa cortar. "O ideal é que se busque um diferencial para cobrar mais."
Valquíria Furlani, diretora da assessoria jurídica do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas-SP), afirma que o aumento deve ser usado como argumento na hora de discutir um novo preço de aluguel.
"Na negociação, há todo um contexto que precisa ser apresentado, e essa questão do IPTU não pode ficar de fora. Vai ter um impacto muito forte e o reajuste tem que ser possível", diz.