Crise russa assusta e dólar bate R$ 2,76
Elevação de juro na Rússia afeta países emergentes; no Brasil, mercado já aposta em alta adicional da Selic
Analistas esperam turbulências até que fique claro qual será o impacto da alta dos juros norte-americanos
A fuga maciça de investidores da Rússia, que levou o rublo nesta terça (16) à maior desvalorização desde a crise de 1998, ecoou nos principais países emergentes, lembrando os sucessivos ataques contra moedas nos anos 1990.
No Brasil, o susto somou-se às dúvidas em relação às intervenções do Banco Central (leia texto abaixo), e o dólar à vista (referência do mercado financeiro) saltou 2,69% e bateu em R$ 2,76, maior cotação desde março de 2005 --última vez em que a moeda superara marca de R$ 2,70.
Diante da contínua saída de investimentos, a Rússia elevou os juros de 10,5% para 17% ao ano, fazendo os investidores questionarem se outros emergentes terão também que subir suas taxas.
O Brasil não saiu ileso, com os investidores cogitando para os próximos meses uma alta adicional da Selic (taxa básica) para além de 12,5% esperados para 2015.
Isso fica claro nas negociações feitas na Bolsa. Os juros previstos para abril de 2015 saltaram de 12,05% para 12,29%, enquanto aqueles para janeiro de 2016 (reflete o ano de 2015) passaram de 12,69% para 12,92%.
"O mercado teme uma guerra' entre os emergentes para deixar seus retornos de juros mais atraentes. A probabilidade de isso acontecer é baixíssima", disse Elad Revi, analista da Spinelli.
"Tudo lembra muito o que ocorreu em 1998, mas os países vulneráveis não são mais os tigres asiáticos, e, sim, Indonésia, África do Sul, Turquia e Brasil, que correm um sério risco de contágio", disse Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset.
Na Rússia, o rublo chegou a recuar 20% nesta terça, mas terminou com baixa de 8,62%, negociado a US$ 0,142 (70,52 unidades por dólar). Neste ano, o rublo caiu 53,9%.
A economia russa foi prejudicada pela derrocada nos preços do petróleo e pelas sanções dos EUA e Europa devido ao conflito na Ucrânia. A indústria de gás e petróleo responde por quase a metade das receitas russas.
O petróleo recuou de US$ 110 para menos de US$ 60 neste ano; ontem, o barril do tipo Brent fechou a US$ 59,86.
JURO NOS EUA
Os investidores temem que momentos de pânico como o desta terça se repitam nos próximos meses até ficar claro o impacto do possível aumento de juros nos EUA, que deve retirar investimentos de países emergentes. Nesta quarta-feira (17), o BC dos EUA não deve mexer nos juros, mas pode sinalizar se a alta da taxa está próxima.
Nesta terça, os reflexos mais intensos foram sentidos na Ásia. O Banco da Indonésia confirmou que vendeu dólares com objetivo de reduzir a volatilidade. Os BCs da Índia e da Malásia também estariam vendendo divisa. A rupia indonésia atingiu o menor valor desde 1998, enquanto a rupia indiana foi à menor cotação em 13 meses.
No Brasil, o dólar à vista fechou em alta de 1,78%, negociado a R$ 2,736, maior valor desde 28 de março de 2005.
Já o dólar comercial subiu 1,86%, para R$ 2,735.