Poupadores podem perder com bloqueio da Lava Jato
Prejuízo será em fundos em que suspeitos de fraude aplicaram seus recursos
Para cumprir ordem judicial e transferir esse dinheiro, bancos farão operação que prejudica os investimentos
Pequenos e médios poupadores com recursos aplicados nos mesmos fundos que receberam dinheiro de pessoas investigadas na Operação Lava Jato, que apura suspeita de corrupção na Petrobras, deverão amargar perdas em seus investimentos, mesmo sem ter nenhuma relação com as fraudes na estatal.
O juiz do caso, Sérgio Moro, determinou o bloqueio e a consequente transferência para contas judiciais dos recursos dos alvos da Lava Jato, entre doleiros, lobistas, executivos de construtoras e ex-dirigentes da Petrobras.
A medida atinge contas-correntes e aplicações diversas, como fundos de investimento, certificados de dívida e até mesmo fundos de previdência complementar.
Conforme a Folha publicou neste domingo (21), alguns bancos questionam a ordem do juiz, alegando que a transferência do dinheiro dará prejuízo aos clientes.
Para cumprir a decisão judicial de colocar os recursos dos investigados em uma conta judicial na Caixa Econômica Federal, os bancos terão que resgatar as aplicações antes do vencimento, o que implica prejuízo para os demais aplicadores.
O procedimento é o seguinte: os bancos atribuem um preço ao papel, provavelmente desfavorável ao fundo ou aplicador (podendo ficar inclusive sem o rendimento proporcional, dependendo do contrato), compram o título com recursos próprios (se não conseguir vendê-los a terceiros) e ainda cobram uma tarifa pelo serviço extraordinário.
Para os fundos de investimento, a operação será onerosa e resultará em prejuízo, que acabará sendo socializado com os demais cotistas.
Entre os fundos atingidos já se sabe que estão alguns do BNP Paribas, do Fator e do Santander, por exemplo.
São fundos sem liquidez diária (não podem ser resgatados a qualquer dia) e que investem em títulos de longo prazo, que receberam dinheiro de Gerson Almada, vice-presidente da construtora Engevix, e Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. Ambos chegaram a ser presos na Lava Jato.
No BNP, Almada tinha mais de R$ 19 milhões. Duque tinha quase R$ 900 mil em um fundo do Santander. Procurados, BNP Paribas e Santander disseram que não podem se manifestar.
A Folha não obteve os dados dos demais investigados.
A Polícia Federal estima que o grupo do qual fazia parte o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ambos presos na Lava Jato, tenha movimentado mais de R$ 10 bilhões. Boa parte teria sido desviada de obras da estatal petrolífera e, posteriormente, aplicada nos bancos.