Vaivém das commodities
MAURO ZAFALON mauro.zafalon@uol.com.br
Safra de grãos é recorde, mas arroz tem menor estoque em 12 anos
A safra brasileira de grãos deverá superar os 200 milhões de toneladas pela primeira vez. Um dos pilares desse avanço é a elevação de 11% na produção de soja.
Pelos cálculos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra de soja deverá atingir 96 milhões de toneladas neste ano.
Os números de produção e de abastecimento divulgados nesta sexta-feira (9) pela Conab apontam, no entanto, um dado preocupante para este ano, um período que promete ser de inflação elevada.
Pela primeira vez nos últimos 12 anos, o país sai de uma safra para outra com estoques inferiores a 1 milhão de toneladas de arroz. Nos cálculos da Conab, serão 902 mil toneladas, metade da média registrada nos cinco anos imediatamente anteriores.
A queda dos estoques não se deve a uma redução de produção, que deverá ser de 12,2 milhões de toneladas no país, 1% maior do que a obtida na safra anterior, mas a um aprendizado maior dos produtores do setor.
Até os anos 2000, a produção brasileira nem sempre era suficiente para cobrir o consumo interno. Nos anos seguintes, até 2010, o país viveu praticamente no limite entre produção e consumo. O sobe e desce dos preços desincentivava os produtores.
EXPORTAÇÕES
A partir de 2010, no entanto, os orizicultores, principalmente os do Sul, buscaram novos mercados para o produto brasileiro.
O resultado foi uma alta acentuada nas exportações, que somaram 2,1 milhões de toneladas na safra 2010/11. Desde esse período, as vendas externas de arroz em casca sempre superaram 1 milhão de toneladas por ano.
Com a abertura de novos mercados para o produto brasileiro, os produtores conseguiram enxugar o mercado interno e manter preços em patamares acima do mínimo estabelecido pelo governo.
Além das exportações, os produtores passaram a utilizar parte das terras dedicadas ao arroz para o cultivo da soja, uma commoditiy bastante rentável nos últimos anos. Em vez de comercializar o arroz no período de safra --quando os preços são reduzidos--, vendem a soja e conseguem liquidez financeira para vender o arroz em períodos mais favoráveis.
A participação do governo gaúcho no incentivo do consumo do arroz nacional, em detrimento do importado dos países vizinhos, favoreceu a colocação do produto nas indústrias empacotadoras, ajudando a sustentar os preços internos pagos aos produtores.
Sempre dependentes da ajuda do governo, com ações de apoio à comercialização e estabelecimento de preços mínimos, o setor de arroz parece ter encontrado um caminho próprio. O importante é manter esses mercados externos conquistados, principalmente agora que a soja perde preço no mercado externo e parte das áreas com a oleaginosa volta para o arroz.
Cabe ao governo administrar bem os estoques do cereal, uma vez que esse cenário já começa a se refletir na inflação.
Em 2014, o arroz, um produto de consumo diário, subiu 11% em São Paulo, aponta a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O cereal foi um dos destaques entre os produtos semielaborados, perdendo apenas para as carnes. A inflação média do setor de alimentos foi de 7,6% em 2014.
A produção mundial de arroz deverá recuar para 475 milhões de toneladas em 2014/15, a primeira queda em seis anos. Já o consumo vai a 483 milhões de toneladas, deixando os estoques em 99 milhões de toneladas.