Vaivém das commodities
MAURO ZAFALON mauro.zafalon@uol.br.com
De olho no pequeno
Maior produtor e exportador de grãos do país, Mato Grosso quer reduzir importações de hortifrútis desenvolvendo agricultura familiar
Maior produtor nacional de grãos, Mato Grosso não tem mais uma secretaria específica para a agricultura. Ela está em uma pasta que engloba energia, comércio, indústria e turismo.
Mas, quando se trata de agricultura familiar, o Estado destina uma secretaria específica para o setor.
O que parece um contrassenso tem uma lógica. Carlos Fávaro, vice-governador do Estado, explica os motivos dessa decisão.
Mato Grosso, o Estado de maior importância na Federação quando se trata da produção e da exportação de grãos, importa R$ 900 milhões por ano em hortifrútis, produtos que vão de tomate, cebola a batata.
A busca desses produtos fora do Estado, principalmente na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), em São Paulo, inibe o desenvolvimento das pequenas propriedades existentes no Estado. Atualmente são pelo menos 153 mil famílias nessas condições.
Apesar dessa atenção para os pequenos produtores, o Estado não deixou de buscar profissionais experientes e ligados ao agronegócio para atuar em problemas sensíveis, como a logística.
Na avaliação de Fávaro, os grandes produtores de grãos já estão municiados de tecnologia e de gestão e têm à disposição pelo menos 10 mil engenheiros-agrônomos.
Mas a função do Estado é desenvolver a logística, para baratear custos, e dar aos produtores novas tecnologias por meio de parcerias com fundações e Embrapa.
Uma melhora da logística vai ser útil tanto para produtores grandes como pe- quenos. Além de permitir a saída de soja e milho, vai integrar municípios, facilitando o escoamento da produção de pequenos para as cidades-polo.
Fávaro, que aos 16 anos saiu de uma pequena propriedade no norte do Paraná para terras de um assentamento em Mato Grosso, acredita que a atuação do governo nas pequenas propriedades é fundamental.
Um dos pontos básicos é a regularização fundiária. Sem ela, os produtores não terão acesso a crédito e aos juros com taxas menores.
Além disso, a regularização traz um "ciclo de oportunidades, criando renda e aumento de emprego. O sistema hoje está exaurido", diz ele.
Para o vice-governador, programas de extensão rural e a colocação de mais tecnologia à disposição dos pequenos produtores permitirão a organização dessa categoria nos setores de leite, pescado, hortifrútis e mel.
"Apesar dessa opção pela agricultura familiar, não vamos nos esquecer dos produtores de grãos, como soja e milho", diz Fávaro. E nem pode porque o agronegócio representa 70% da economia do Estado de Mato Grosso.
Segundo o vice-governador, a escolha dos novos nomes para a administração do Estado é com base em "perfil técnico". E vários vieram das principais organizações de produtores do Estado.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, em que estará a parte empresarial da Agricultura, terá no comando Seneri Paludo, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
Marcelo Duarte, diretor-executivo da Aprosoja, fica com a Secretaria de Infraestrutura e de Logística, enquanto Luciano Vacari, superintendente da Acrimat (setor de pecuária), incorporou-se ao grupo da Secretaria de Desenvolvimento Regional.
Das pastas, uma das mais exigidas neste ano será a da Logística. Os preços das commodities caem e a saída para segurar a renda do produtor será diminuir os custos.