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Exportadores suíços lamentam choque cambial e peso sobre rótulo 'Swiss Made'
O rótulo "Swiss Made" (feito na Suíça) lembra qualidade, confiabilidade e precisão. Mas, após o país abolir o limite para a cotação do franco suíço, nesta semana, a mensagem que ele transmite pode se tornar menos atraente: "Produto mais caro".
A decisão do Banco Nacional Suíço (BNS), após três anos de controle da cotação, foi recebida com indignação por pequenas e médias empresas do país que faturarão menos com suas exportações.
Ao contrário das multinacionais sediadas ali, as pequenas empresas produzem uma porção maior de seus bens na Suíça --logo, não podem distribuir os custos de produção para outras moedas. Enfrentam agora a perspectiva de cortar custos e baixar preços em francos para se manter competitivas.
"Confio em vocês para que haja um plano que nos ajude no longo prazo", escreveu Edouard Meylan, presidente-executivo da fábrica de relógios H. Moser & Cie em carta aberta a Thomas Jordan, presidente do BNS, dizendo que já havia recebido cancelamentos de encomendas.
Pequenas e médias empresas responderam por 20% das exportações em 2012, calcula o banco Credit Suisse, e empregam 2,3 milhões dos 8 milhões de habitantes do país, diz a consultoria OBT.
Isso significa que qualquer consequência negativa da apreciação do franco suíço afetará a economia toda.
Os fabricantes de relógios estão entre os mais prejudicados, pois uma lei de 2013 determina que ao menos 60% do valor de um produto venha de componentes fabricados no país para ganhar o cobiçado "Swiss Made".
Segundo Nicholas Ebisch, analista de câmbio da Caxton FX, os produtos das companhias suíças se tornaram de 10% a 40% mais caros no intervalo de uma semana.
Empresas de tecnologia médica --outro nicho de mercado em que a Suíça vai bem-- também devem sofrer.
A Straumann, de implantes dentários, pode ser uma das mais prejudicadas, pois quase dois terços de seus custos de produção são em francos suíços, mas 40% de suas vendas são em euros, estimam analistas. A Sonova, líder global de aparelhos auditivos, também foi destacada.
O Credit Suisse considera que o fim do limite cambial possa reduzir em até 20% os lucros operacionais anuais das duas empresas.
Embora a Straumann tenha declarado que estuda cortar seus custos, para muitas empresas pequenas não há margem de manobra.
Peter Spuhler, presidente-executivo da Stadler Rail, que exporta metade dos trens que produz, descreve o anúncio repentino sobre o câmbio como "terapia de choque" para a indústria. "A única coisa a fazer no curto prazo é transferir parte do processo produtivo ao exterior. De outro jeito, não haverá encomendas."