Europa empurra a Grécia para sair do euro
Decisão do BCE de secar empréstimo fecha as portas de financiamento para o novo governo
Sem nenhuma sutileza, a União Europeia está empurrando a Grécia, com seu novo governo esquerdista, para uma situação sem saída que, no limite, pode forçar o país a abandonar o euro, a moeda única de 19 países do continente.
O empurrão mais recente foi dado na quinta-feira (5), pelo ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, que a revista "The Economist" definiu como "aiatolá da austeridade".
Ao término de duas horas de conversa com seu colega grego Yanis Varoufakis, marxista e antiausteridade assumido, Schäuble disse que os dois haviam "concordado em discordar".
Varoufakis foi mais longe: "Nem sequer concordamos em discordar".
O encontro dos dois deu-se menos de 24 horas depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter anunciado que estava fechando a torneirinha de financiamento barato para os bancos gregos --o organismo deixou de aceitar títulos da dívida grega como garantia para empréstimos.
Com esses recursos, os bancos compram títulos do governo, que vai, assim, rolando sua imponente dívida de 175% do PIB (Produto Interno Bruto).
O que Varoufakis queria do ministro alemão (e dos demais colegas europeus com os quais se avistara nos dias anteriores) era um esquema-ponte de alguns meses, até maio em princípio, para dar tempo ao governo de preparar uma proposta completa sobre como aliviar a sufocante dívida grega.
O novo governo, eleito dia 25, está há apenas 12 dias em funções e, nesse prazo, não teria mesmo como montar uma proposta acabada sobre o alívio da dívida.
Schäuble cortou essa possibilidade e deixou claras as cartas que a Europa está mostrando à coligação Syriza: não quer dar a um partido de esquerda radical, o primeiro a chegar ao poder no continente, a mínima chance de ganhar a queda de braço e, com isso, servir de modelo para outros países também sufocados pela austeridade.
Agora, cabe à Syriza refazer as suas próprias cartas ou insistir em um confronto em que suas chances de triunfar ficaram nitidamente diminuídas.
Afinal, somente no mês passado, a Grécia sofreu uma fuga de capitais equivalente a 15% de seu PIB e os bancos viram se evaporar 8% de seus depósitos.
Com a decisão do BCE e a intransigência da Alemanha, o governo grego não tem como financiar-se. Logo, o novo governo ou será obrigado a abandonar sua batalha contra a austeridade imposta pela Europa ou a sair do euro para poder emitir uma moeda própria.