Lava Jato para obras de R$ 5 bi e provoca 7.000 demissões
Cidades que receberam estaleiros no Rio Grande do Sul, na Bahia e no Espírito Santo são afetadas pela crise
Em Maragogipe (BA), consórcio que havia sido contratado pela Petrobras afirma que já fechou 4.500 vagas
A crise nas empreiteiras afetadas pela Operação Lava Jato ameaça as promessas de desenvolvimento acelerado nas cidades pelo país que receberam a instalação de estaleiros voltados à produção para a Petrobras.
Em três Estados --RS, BA e ES--, os investimentos somam pelo menos R$ 5 bilhões, e em dois (BA e RS) as demissões chegam a 7.000, segundo sindicatos.
Com economia modesta até 2006, Rio Grande, município de 207 mil habitantes no litoral gaúcho, conheceu o status de polo econômico do Estado após o início da construção de plataformas e módulos para a Petrobras.
Shoppings foram erguidos e a construção civil passou por um boom, mas, após a Lava Jato, o cenário se deteriorou.
O sindicato dos metalúrgicos estima que foi demitida metade da força de trabalho da empreiteira Engevix, empresa que teve o vice-presidente preso na operação e que tinha sido contratada pela Petrobras para construir cascos para plataformas.
Empresas terceirizadas reclamam de dívidas pendentes e também demitem --o sindicato fala em 2.500 cortes.
Na quinta-feira (12), uma série de protestos foi promovida pelo sindicato dos metalúrgicos na cidade, com o fechamento de rodovias e greve de ônibus.
A incerteza também paira sobre dois projetos que seriam a base da economia local nos próximos anos: a construção das plataformas P-75 e P-77 por um consórcio liderado pela Queiroz Galvão. O início dos trabalhos vem sendo adiado sucessivamente desde 2013 e não há garantia de quando sairá do papel.
Na Bahia, o cenário também é de insegurança no estaleiro em Maragogipe, cidade de 46 mil habitantes a 130 km de Salvador. Os trabalhos são em duas frentes: na construção da estrutura do estaleiro e também na montagem de sondas de perfuração. O investimento previsto no local era de R$ 2,7 bilhões.
Nos últimos meses, segundo informações do próprio consórcio, 4.500 pessoas foram demitidas no complexo, tanto na obra física quanto na área das sondas.
Os equipamentos tinham sido encomendados pela Sete Brasil, parceira da Petrobras e investigada na Lava Jato. O consórcio é composto por empresas como a OAS e UTC Engenharia --também envolvidas na operação.
No Espírito Santo, a crise da Sete Brasil também atrapalha o início das atividades de um complexo criado para a construção de navios-sonda. O estaleiro, administrado pela empresa de Cingapura Jurong, levou o município de Aracruz a se tornar um dos que mais geraram empregos na indústria no país em 2014.
No começo do mês, o responsável pela operação na América do Sul, Martin Cheah, disse ao jornal "Valor" que o atraso nos pagamentos da Sete Brasil provocaria demissões e obrigaria sua empresa a ir à Justiça. Procurada pela Folha, a Jurong informou que as atividades estão normais e que não comenta sobre inadimplência.
A Petrobras disse estar em dia com suas obrigações e que os pagamentos às empresas continuam de acordo com o que tinha sido estabelecido nos contratos.