Brasileiros do 3G se unem a Buffett para assumir Kraft Foods
Kraft Heinz nasce como a quinta maior empresa de alimentos processados, com US$ 28 bi de faturamento
Trio Lemann, Sicupira e Telles deve repetir na nova companhia a política de meritocracia e forte corte de gastos
A fabricante do famoso ketchup Heinz anunciou a fusão com a Kraft Foods, em mais um grande negócio envolvendo o trio de brasileiros do fundo 3G Capital --Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira-- e o megainvestidor Warren Buffett.
A operação cria um gigante de US$ 28 bilhões de faturamento. A empresa nasce como a terceira maior de alimentos e bebidas dos EUA e a quinta no mundo, com cerca de 50 mil funcionários.
Os acionistas da Heinz terão 51% da empresa, que receberá ainda um investimento de US$ 10 bilhões do 3G e da Berkshire Hathaway, holding de Buffett, a segunda pessoa mais rica do mundo.
O comando da nova empresa estará nas mãos do brasileiro Bernardo Hees, que já é o atual presidente da Heinz.
Os atuais acionistas da Kraft terão 49% da nova empresa e receberão dividendos de US$ 16,50 por ação --valor que será pago por Buffett e pelo 3G Capital.
A operação, avaliada em US$ 40 bilhões, está sendo considerada como a maior envolvendo troca de ações na carreira de Buffett, conhecido como "oráculo de Omaha", apelido que envolve sua cidade de origem, no Nebraska (EUA), e sua capacidade de fazer bons negócios.
"Este é o meu tipo de transação: unir duas organizações de classe mundial, entregando valor para os acionistas", disse Buffett.
CORTES E DEMISSÕES
As ações da Kraft tiveram alta de 35% nesta quarta-feira (25), devido ao anúncio.
O fundo 3G e a Berkshire fizeram a primeira grande operação conjunta em junho de 2013, ao adquirir a Heinz.
Um ano e meio depois, a estratégia de gestão característica do trio de bilionários brasileiros, com base na meritocracia, foco agressivo em corte de custos e muitas demissões, fez a empresa se tornar a mais lucrativa do setor de alimentos industrializados dos EUA.
No comunicado, a empresa diz que a economia de custos com a fusão das operações de Heinz e Kraft será da ordem de US$ 1,5 bilhão até 2017. Os planos incluem a re-internacionalização da Kraft, que em 2012 se voltou para o mercado norte-americano, com a cisão das operações globais, reunidas em uma empresa independente, listada em Bolsa, a Mondelez.
Redimensionada, a Kraft passou a focar poucas, e famosas, marcas de laticínios, lanches refrigerados, sobremesas e bebidas nos EUA e no Canadá, enquanto a Mondelez, com US$ 35 bilhões de faturamento, ficou com balas, biscoitos e chocolates em todo o mundo (incluindo EUA).
Nessa divisão, a Kraft manteve o direito de explorar a marca de cream cheese Philadelphia nos EUA e no Canadá. No resto do mundo, a marca pertence à Mondelez.
No Brasil, a Mondelez é dona de Lacta, Tang, Trident e das outras marcas que pertenciam à extinta Kraft Brasil.
Com base em pesquisas que mostram um recall forte da Kraft no mundo --em 2012, a marca era conhecida de mais de 80% da população de 14 países--, o 3G pretende aproveitar as estruturas globais da Heinz para reviver a Kraft fora dos EUA e internacionalizar seu portfólio.
No Brasil, a marca Kraft é conhecida por 89%.