Dólar sobe após fim de intervenções do BC
Dúvidas sobre cumprimento do ajuste fiscal e instabilidade política contribuem para o avanço da cotação da moeda
Após três quedas, divisa americana volta a ganhar força, mas dúvidas sobre juros nos EUA limitam fôlego
O fim do programa de intervenções diárias no mercado de câmbio, a partir de abril, e tensões no ambiente político levaram o dólar de volta ao patamar de R$ 3,20 nesta quarta-feira (25).
O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, interrompeu três dias de queda e fechou em alta de 2,36%, cotado a R$ 3,201. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,76%, para R$ 3,181.
Apesar de a decisão do BC ser esperada pelos investidores, o dia foi de ajustes no mercado de câmbio.
O BC informou, na noite de terça (24), que seu programa de leilões de "swap" cambial será suspenso a partir do próximo dia 31. O programa é usado para oferecer diariamente ao mercado novos contratos que equivalem a uma venda futura de dólares.
A decisão reforça a linha adotada pela equipe econômica de não segurar artificialmente o dólar, o que já havia sido sinalizado pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda).
TENSÃO POLÍTICA
Novos desdobramentos da turbulenta relação entre o Planalto e o Congresso também contribuíram para a alta da moeda americana.
A derrota do governo na Câmara na terça-feira, com a aprovação de um projeto que revê o pagamento de dívidas de Estados e municípios, trouxe mais dúvidas sobre o cumprimento do ajuste fiscal defendido por Levy.
Embora a votação do projeto no Senado tenha sido adiada para a próxima terça-feira (31), após apelo do ministro da Fazenda, as preocupações continuam.
"O noticiário deixa clara a fragilidade do governo em relação às alianças políticas importantes para que os planos de ajuste fiscal se consolidem. Isso traz instabilidade, e as empresas acabam comprando mais dólares para proteger suas contas", diz Fabiano Rufato, gerente sênior da mesa de câmbio da corretora Western Union.
A demissão do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social, contribuiu para o clima de instabilidade.
A valorização do dólar foi limitada pela declaração de um integrante do Fed, o banco central dos EUA, de que não há motivos para apressar a alta da taxa de juros no país.
Para Charles Evans, presidente do Fed de Chicago, os custos de elevar os juros nos EUA cedo demais pesam muito mais que os de elevá-los mais tarde. Ele diz que a taxa de desemprego nos EUA, em 5,5%, ainda está acima do nível de 5% que ele vê como sustentável. A afirmação levou à valorização de algumas moedas emergentes.
A Bolsa brasileira fechou em alta. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, subiu 0,68%, impulsionado pelas ações da Petrobras, que avançaram mais de 4%.