Após balanço, Petrobras vai mirar dívida
Estatal anunciou que apresentará ao conselho nesta quarta (22) seus resultados de 2014, após atraso de 159 dias
Empresa terá que rever seu plano de investimentos e reduzir sua dívida líquida, que chega a R$ 300 bilhões
A dívida líquida de R$ 300 bilhões será a próxima batalha da diretoria da Petrobras depois da entrega, prevista para esta quarta (22), dos balanços auditados em atraso de até 159 dias.
Egressos do Banco do Brasil, Bendine e Ivan Monteiro, diretor financeiro, estudam estratégias para reduzir o endividamento. Medidas já anunciadas, como o corte de investimentos e a venda de ativos, ajudam ao reduzir a demanda por financiamento.
A dupla estuda outras iniciativas. A Folha apurou que, neste momento, emitir novas ações ou transformar dívida de bancos públicos, como BNDES, em participação acionária, como se especula no mercado, estão fora da mesa.
EMPRÉSTIMOS
A dívida já havia passado dos R$ 261 bilhões em setembro, com a alta de 25% do dólar no período --67% da dívida da estatal é nessa moeda.
E cresceu mais, com os novos empréstimos: R$ 10,7 bilhões com a China, no fim de março, e R$ 4,5 bilhões liberados nesta sexta-feira (17) pelo Banco do Brasil.
A empresa diz que não precisa mais levantar recursos neste ano, porque planeja vender US$ 13,7 bilhões em ativos até 2016 --acaba de vender R$ 9 bilhões em plataformas-- e tem R$ 5 bilhões em crédito pré-aprovado.
RISCO AFASTADO
Os empréstimos obtidos afastam o risco, identificado no começo de março pela área financeira da Petrobras, de chegar a dezembro com o caixa no piso tido como seguro, de US$ 10 bilhões. Mas aumentam o endividamento.
Um dos mais importantes indicadores desse aspecto, a relação entre dívida líquida e capacidade de gerar caixa (medida pelo Ebitda), deve estar acima de 5, estima o mercado. "O ideal seria 3,5", diz Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Corretora.
A pesada dívida é mais um obstáculo no caminho no qual Bendine gostaria de ver a empresa. A alta do dólar, de quase 20% no ano, e o preço do barril pioram as coisas.
A Petrobras é "importadora líquida", ou seja, ela importa mais do que exporta, na conta final entre o que vende lá fora --petróleo mais pesado produzido no Brasil-- e o que traz --petróleo mais leve, exigido pelas refinarias brasileiras por questões técnicas, e parte dos combustíveis consumidos. E dólar alto é ruim para importadores.
PREÇO DO PETRÓLEO
A queda no preço do barril de petróleo, de US$ 110 para US$ 45 de julho a janeiro, tem dois lados.
Na venda de combustíveis, o petróleo mais barato tem ajudado porque estancou a perda com a defasagem em relação aos preços externos --a Petrobras é impedida pelo governo de ajustar preços automaticamente.
Desde novembro, a empresa até ganhou dinheiro com uma defasagem positiva e recuperou R$ 6,4 bilhões, dos R$ 90 bilhões negativos acumulados pelo cenário de alta do barril, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura. A alta do barril, para a casa de US$ 55, e o dólar, porém, estão zerando a vantagem.
Por outro lado, a cotação menor do barril acende o alerta sobre os projetos de produzir petróleo das promissoras reservas do pré-sal.
A exploração dessas reservas só é economicamente viável se o petróleo estiver acima de US$ 52 por barril.
As perdas com os combustíveis e os pesados investimentos dos últimos anos, em refinarias e no pré-sal, aprofundaram o endividamento.
PLANO DE INVESTIMENTO
A Petrobras teve seu primeiro problema com balanços, em outubro.
A PwC se recusou a auditar e aprovar o documento porque diretores responsáveis por atestar a veracidade de informações foram citados na Operação Lava Jato, que apura corrupção.
Depois foi preciso estabelecer um critério para calcular as perdas com o pagamento de propinas, o que foi resolvido neste mês.
Quando o balanço for entregue, a diretoria terá de rever o plano de investimentos, para enxugar e cortar projetos. A ex-presidente Graça Foster previa cortar os investimentos em 30% neste ano, para US$ 31 bilhões.
"Para preservar o caixa, é fundamental que a empresa não volte a perder dinheiro com a venda de combustíveis", diz Plácido.