Após 4 anos de prejuízos, estatal tem lucro com venda de combustível
Queda no preço do petróleo e reajuste de diesel e gasolina colaboram para resultado positivo
Petrobras estima, internamente, que defasagem provocou perda acumulada de R$ 90 bi desde 2011
Após 16 trimestres seguidos de prejuízos, a área de abastecimento da Petrobras (responsável pelas refinarias e pela negociação de petróleo e combustíveis) voltou a dar lucro no início deste ano.
O segmento, que acumulava perdas pela impossibilidade de reajustar o preço dos combustíveis de acordo com as cotações internacionais do petróleo, lucrou R$ 9,4 bilhões nos primeiros três meses do ano, depois de prejuízo de R$ 7,4 bilhões no primeiro trimestre de 2014
O resultado se deve, em grande parte à queda no preço do petróleo. De julho de 2014 a janeiro, o barril caiu de US$ 110 para US$ 42.
O reajuste da gasolina (3%) e do diesel (5%) --acertado no fim de 2014-- também contribuiu para o ganho, assim como a desvalorização do real em relação ao dólar.
A Petrobras foi beneficiada agora pela queda no cotação do petróleo porque, diferentemente de outras petroleiras, ela não pode repassar automaticamente para os combustíveis um eventual aumento do barril.
Como controladora da Petrobras, a União dita o ritmo de reajuste dos combustíveis, com objetivo de evitar impacto inflacionário.
A receita da estatal com venda de combustíveis sofre impacto da cotação no exterior. Isso porque, para produzir diesel e gasolina para o consumo no país, ela precisa importar petróleo leve, não produzido em escala suficiente no Brasil. Grande parte do óleo extraído aqui é pesado.
Justamente por ser pesado, é exportado com desconto de US$ 10 em relação à cotação do preço do barril de referência internacional ("Brent"), o que amplia as perdas.
A Petrobras também importa parte dos combustíveis que vende, porque não consegue atender toda a demanda interna. No balanço final, a empresa é importadora e, por isso, o dólar alto também a prejudica. Estima-se internamente na estatal que a perda com a defasagem desde 2011 chegou a R$ 90 bilhões.
A mudança de cenário permitiu à Petrobras deixar de perder com a venda de combustível. A estatal passou a ganhar com a defasagem, a partir de novembro, com a queda na cotação do barril. Também contribuiu o reajuste dos combustíveis.
Em janeiro, a gasolina brasileira chegou a ficar 56,8% mais cara do que a internacional, e o diesel, 50,8%, calcula o CBIE (Centro Brasileiro de Ingraestrutura). Naquele mês, o ganho havia chegado a R$ 2,6 bilhões.
A recuperação do petróleo, aliada à desvalorização do câmbio, tem reduzido a defasagem. Em março, os preços da gasolina e o diesel estavam 0,7% e 13,7% mais caros.
A Petrobras deverá voltar a ter perdas nos combustíveis, caso o preço do barril e o dólar subam, como prevê o mercado, até o fim do ano.