Foco
De volta ao trabalho, do quarto, num piscar de olhos
"Nunca estive tão realizado como agora." É assim que Luis Henrique da Cruz Ribeiro, 35, define seu momento profissional. Na próxima semana, o administrador de empresas retoma as atividades como consultor sênior na EY, antiga Ernest & Young, após sete anos de licença médica.
Não é um retorno qualquer. A carreira de Ricky, como é conhecido, foi interrompida em 2008 pelo diagnóstico de ELA (esclerose lateral amiotrófica), a mesma doença degenerativa do físico britânico Stephen Hawking.
Ricky é o único caso de um portador de ELA a retomar a vida profissional oficialmente no Brasil.
Assim como seu famoso colega de batalha contra um mal que rouba as funções motoras enquanto o cérebro continua em perfeitas condições, Ricky volta ao antigo emprego em circunstâncias extraordinárias: de seu "room-office" na residência da família em Alphaville (SP).
O quarto dispõe de todo um aparato médico e tecnológico que, aliado a muita determinação, faz o seu ocupante driblar as enormes limitações de uma doença incurável que o impede de se mover, falar, se alimentar e até respirar normalmente.
"Diferentemente de quem sofre trauma em um acidente, eu fui perdendo os movimentos gradativamente e tive tempo de me adaptar a cada nova limitação", conta Ricky, por e-mail, à Folha.
Para se comunicar, ele utiliza um equipamento chamado Tobii Eye, que, acoplado a um laptop, lhe permite escrever com os olhos. Por meio de um leitor óptico que capta os movimentos das pupilas, consegue acessar a internet, responder e-mails, postar no Facebook, fazer planilhas e apresentações. "Ou seja, praticamente tudo que fazia antes, só mais devagar."
A tecnologia também lhe trouxe de volta a fala. "Uso um programa que transforma texto em voz." O software foi desenvolvido para atender às necessidade de Hawking.
Ricky comanda da cama o portal Mobilize Brasil, que se tornou referência no debate sobre mobilidade urbana.
"Vendo o Ricky e tantos outros, aprendi que quem estabelece a limitação é o indivíduo. Todo mundo pode atingir seu potencial", diz Elisa Garra, diretora de RH da EY.