Entrevista - Aswath Damodaran
Meu medo é que o governo aumente ingerência na Vale
Com Petrobras fragilizada, atenções podem se voltar para a mineradora, afirma especialista em avaliação de empresas
Para o indiano Aswath Damodaran, considerado um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo, um investidor precisa ir onde "a coisa está preta" e, por isso, este é o momento de olhar para o Brasil. Mas com cautela.
Dono de ações da Vale desde 2014, seu temor não é o preço do minério, mas se o governo brasileiro aumentará a ingerência na empresa.
"Meu medo é que, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale", diz o indiano que dará palestra no país no mês que vem. Segundo ele, o estrago feito pelo governo na Petrobras foi tão grande que levará tempo para que ela possa se reerguer.
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Folha - O sr. já classificou a Petrobras como um exemplo de como destruir valor. A situação ainda pode piorar?
Aswath Damodaran - Mesmo sem corrupção, as peças estavam colocadas para que ela fosse destruída. A motivação da diretoria, dada pelo governo, era fazer da Petrobras a maior companhia global de petróleo. É um objetivo muito ruim de ter ao tocar uma empresa, o de transformá-la na maior em vez de na mais eficiente, na mais bem gerida e na mais valiosa.
A meta de ser a maior é ruim ou foi a forma de buscar isso?
Eles [o comando da Petrobras] estavam tentando fazer o que foi pedido: tornar a Petrobras a maior petroleira da face da terra. E como se faz isso? Buscam-se reservas mesmo se não houver sentido econômico. Você fica tão focado em erguer um império que se esquece de que é um negócio e você tem de fazer dinheiro para que ele siga em frente.
O sr. evitou analisar o impacto da corrupção no caso da Petrobras. Por quê?
Corrupção é um problema sério, mas torna-se pior quando num país como o Brasil. Quanto mais regras diferentes existem em um país, maior a chance de haver corrupção. A corrupção vem da forma como a Petrobras foi estruturada. Ela é um sintoma do problema. Se você não o conserta, pode pegar todos e colocá-los na cadeia e, em cinco ou dez anos, vai repetir todo o processo. O que me assusta é que a estrutura da Vale não é tão diferente da da Petrobras. Sou acionista da Vale. O governo tem "golden share" [ação que dá direito a veto] e muita influência sobre o comando da empresa. A situação da Vale hoje é como estar numa família na qual o filho mais velho estava sendo castigado, e ela, por ser caçula, escapou. Meu medo é que, agora que o mais velho está no hospital, eles pensem: talvez devêssemos fazer o mesmo com o mais novo. Ou seja, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale.
Na Vale, há sócios como Bradesco e Mitsui. Não é mais difícil fazer tal estrago?
Apesar das demais forças na Vale, o governo é dominante. Seria mais difícil fazer o que fizeram na Petrobras, porque muitos dos projetos da Vale estão fora do Brasil.
O sr. disse que perdeu dinheiro com Vale, mas decidiu manter a ação. Por quê?
Não ganhei dinheiro ainda, mas estou disposto a manter. Vejo a Vale como uma mineradora global, mais barata do que concorrentes e sem a dívida da Petrobras.
Mas estou atento, buscando algum sinal de que a empresa possa estar embarcando em algo destrutivo.
O que há em seu portfólio?
É sempre bem diverso e nunca muito concentrado. Não tenho medo de tomar riscos e ir a mercados emergentes. Tenho, por exemplo, Lukoil [petroleira russa]. Nas minhas aulas digo sempre para ir aonde "a coisa está preta". Por isso, estou interessado no Brasil no momento.
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folha.com/no1645405