Grécia teme corrida e fecha bancos hoje
Com calote cada vez mais próximo, instituições ficam fechadas por 1 semana e saques serão restritos a R$ 210 diários
Impacto nos mercados internacionais é incerto; para o Brasil, crise da UE seria sentida também no comércio exterior
Diante do risco de calote e da falta de acordo com credores, a Grécia decidiu fechar os bancos até ao menos a próxima segunda (6) e impor medidas de controle de capital, restringindo os saques nos caixas eletrônicos a € 60 diários por pessoa (R$ 210).
Com a decisão, os bancos ficarão fechados ao menos até o dia seguinte ao plebiscito no país sobre as negociações com os credores. A restrição não deve incluir saques das aposentadorias nem turistas estrangeiros. Os caixas eletrônicos devem voltar a funcionar na tarde desta segunda-feira (29).
O anúncio das medidas foi feito pelo premiê Alexis Tsipras (Syriza), pela TV, sem muitos detalhes --ele, na verdade, aposta em uma última conversa com líderes europeus nesta segunda para salvar o país de um colapso e evitar sua saída da zona do euro.
Imagens deste domingo mostraram longas filas nos caixas eletrônicos em Atenas, com a população tentando se precaver contra um cenário de escassez de dinheiro.
O impacto do colapso grego nas Bolsas globais é incerto, mas a expectativa é de forte queda na segunda, ainda que a crise europeia esteja mais branda que em 2011, quando a saída da Grécia do euro parecia provável.
Para o Brasil, o impacto poderá ser sentido ainda no comércio exterior, caso a crise se alastre para a União Europeia --o bloco é o destino de 18% das exportações brasileiras. A Grécia responde por menos de 0,1% das vendas do país.
O agravamento da situação levou o presidente dos EUA, Barack Obama, a pedir à chanceler alemã, Angela Merkel, solução que evite a saída da Grécia da zona do euro.
O governo grego precisa quitar dívida de € 1,6 bilhão com o FMI na terça-feira (30). Para tanto, quer desbloquear o acesso a € 7,2 bilhões, última parcela do socorro de € 240 bilhões recebido de FMI e BCE (Banco Central Europeu) desde 2010.
Sem acordo, o país teme ficar sem dinheiro e tenta controlar a insolvência de seus bancos. Os depósitos, em maio, estavam no menor patamar em 11 anos (€ 139 bilhões) e ao menos € 5 bilhões foram sacados nas últimas duas semanas.
O fechamento dos bancos ficou inevitável depois de o BCE informar que não vai aumentar o fundo de assistência emergencial, que serve para os bancos gregos reporem os recursos sacados.
"Todos os depósitos, salários e aposentadorias estão garantidos", disse Tsipras, que pediu "paciência" à população e voltou a acusar os credores de chantagem.
O rompimento das negociações deu-se de vez no sábado, quando os países da zona do euro e os credores (FMI e BCE) recusaram-se a prorrogar por um mês a dívida.
A Grécia havia pedido o prazo para esperar o plebiscito de 5 de julho, anunciado somente na noite de sexta (26). A consulta foi aprovada no fim de semana pelo Parlamento em meio a incertezas sobre seus efeitos práticos.
Em troca de um acordo com Atenas, os credores exigem mais cortes de gastos e uma reforma profunda na Previdência. O governo da sigla Syriza, eleito em janeiro sob o discurso contrário a medidas de austeridade, fez uma proposta de ajuste de € 7,9 bilhões, que não foi aceita.