Para sociólogo, Grécia expõe crise cultural europeia
A Europa virou um continente submisso aos EUA em política externa e econômica. É esse contexto que a Grécia escancara hoje, na avaliação do sociólogo Marcos Roitman: "A crise grega é uma crise cultural da Europa."
Doutor em política e sociologia e professor titular da Universidade Complutense de Madri, ele avalia que a Grécia é "o paradigma de como atuam os grandes mercados: não se importam que aposentados percam sua aposentadoria, que hospitais tenham sido fechados, que gastos sociais sejam cortados. Tanto faz: estão ganhando".
Chileno radicado na Espanha, Roitman, 59, considera que a crise não transbordará para outros países europeus.
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Folha - Qual a origem da crise?
Marcos Roitman - As políticas de austeridade adotadas por sua elite política, impossibilitando autonomia e soberania. As grandes fortunas gregas quase não pagam imposto e a maioria foi para a Suíça e outros países. A Grécia é o paradigma de como atuam os grandes mercados. Não se importam que aposentados percam a aposentadoria, que hospitais tenham sido fechados, que gastos sociais sejam cortados. Tanto faz: estão ganhando.
A Grécia deve ceder?
Os grandes beneficiários da crise são os bancos. A crise grega é uma crise cultural da Europa. De um continente soberano e com um projeto internacional distinto dos EUA, a Europa virou uma região submissa aos interesses dos EUA, tanto em questões de política externa de segurança quanto em política econômica.
O caso grego pode transbordar politicamente para países como a Espanha?
Isso é extrapolação. Tem a ver com a articulação do medo e a criação de descrédito em relação à Grécia.
Mas em outros países, como a Espanha, surgiram movimentos antiausteridade.
Na história há processos sociais e políticos, não modelos. A Espanha saiu de uma ditadura franquista de 40 anos. O que está sendo jogado é a reinterpretação de seu passado, o que foi a república, a guerra civil.
O capitalismo está em crise?
Não. Está no auge absoluto. O que está em crise é a concepção de trabalho, de justiça social, de direitos humanos. A flexibilização do trabalho está eliminando esse direito. Capitalismo e exploração seguem juntos. A dinâmica faz com que as pessoas rebaixem suas condições de vida. É um êxito do capitalismo. Não temos problema em aceitar uma exploração maior. Temos problema quando não consumimos. As pessoas protestam porque não têm o último celular. Se há dinheiro para consumir, está bom.
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