Investimento público afunda; mercado vê recessão em 2016
Pagamento da União por obras e equipamentos caiu 37% de janeiro a julho
Recuo, somado ao dos gastos privados, deve contribuir para 2 anos seguidos de retração, algo inédito desde 1931
A desaceleração nos gastos do governo e do setor privado deve contribuir para que a economia brasileira tenha dois anos seguidos de retração, algo que não ocorre desde o pós-crise de 1929.
A atividade econômica deverá cair 2,01% neste ano e 0,15% em 2016, segundo projeções dos economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa semanal Focus.
A única vez em que foi registrada duas quedas seguidas no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi nos anos de 1930 e 1931, de acordo com série histórica com início em 1901 organizada pelo Ipea (órgão de pesquisa econômica do governo).
Nas projeções, estão embutidas perspectivas de retração para a indústria nestes dois anos. No setor de serviços, espera-se que a queda deste ano seja seguida por uma estagnação no próximo. O setor agropecuário, por outro lado, deve registrar dois anos de crescimento.
Em relação a 2015, todos os economistas consultados preveem retração (entre 0,9% e 3%). Para 2016, as estimativas variam entre queda de 1,2% e alta de 1,8%.
Indústria e serviços estão entre os setores mais devem reduzir investimento. Mas os gastos do governo também afetam a perspectiva.
GASTOS DO GOVERNO
Dados levantados pela Folha mostram que os pagamentos feitos pela União em contratos para realização de obras e compra de equipamentos caíram 37% nos primeiros sete meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2014.
O valor total desembolsado pelo governo nesse tipo de aquisição chegou a R$ 20,8 bilhões entre janeiro e julho. No ano passado, a União havia gasto R$ 33,1 bilhões com pagamento de obras, compra de máquinas e outras aquisições de bens, o que é tecnicamente chamado de investimento.
O montante do gasto efetivo em 2014 era 32% superior ao que havia sido registrado no mesmo período de 2013.
Além da queda nos valores realizados neste ano, o gasto ainda inclui uma parcela expressiva de dívidas de anos anteriores, o que é conhecido na linguagem orçamentária como restos a pagar.
Na média dos últimos três anos, o governo usava 77% dos recursos que tinha entre janeiro e julho para pagar dívidas do ano anterior. Em 2015, esse percentual subiu para 88%.
No ano passado, nos sete primeiros meses, o governo já havia executado –ou seja, se comprometido efetivamente a pagar por compras e obras já realizadas– R$ 6,6 bilhões do orçamento de investimento do ano. Em 2015, esse valor chegou a apenas R$ 3,9 bilhões.
A análise dos 20 principais itens de gastos de 2014 mostra quedas significativas nas áreas de defesa, saúde, educação e agricultura.
Na defesa, os programas de compras de novos equipamentos e as obras para recebê-los, que no ano passado puxaram os desembolsos do governo, tiveram queda de 75% neste ano.
De acordo com o levantamento, não houve queda nos gastos das obras para a Transposição do São Francisco (Eixo Norte), que teve 39% mais desembolsos no período, e para os Jogos Olímpicos, com 27% a mais.
Em relação aos gastos, o Ministério da Fazenda informou –utilizando um critério diferente do existente no sistema oficial de gastos– que a queda foi de 31% (de R$ 47 bilhões para R$ 32,3 bilhões) no período e que, por esse critério, 73% foi para pagar a dívida dos anos anteriores.